Os “capitães do mato” ameaçam
Os acontecimentos econômicos passaram para segundo plano nesta semana. Diante das péssimas avaliações que as pesquisas teimam em mostrar, o presidente age desesperadamente na tentativa de virar o jogo. Ele não abandonou sua antiga estratégia. Continuou a proferir ofensas contra as instituições e pregar o golpe. Mas desta vez foi mais longe. Convocou o corpo diplomático acreditado no país para uma reunião que foi realizada no palácio presidencial. Violando todos os protocolos a reunião, com algumas dezenas de embaixadores, contou com o comparecimento de vários ministros como os generais Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria Geral), Augusto Heleno (GSI), além de Carlos França (Relações Exteriores) e Ciro Nogueira (Casa Civil). É de se destacar a presença de Ciro Nogueira do PP, comprometendo-se com o golpe e as ausências dos comandantes das três forças armadas e do presidente do STF que não aceitaram o convite.
Em seu monólogo o presidente desferiu vários ataques ao processo eleitoral e às urnas eletrônicas, repetindo mentiras que ele já proferiu em outras ocasiões e foram rebatidas. Fez também ataques diretos a alguns ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF) e aos próprios tribunais. O escândalo foi internacional e estamos vivendo agora o resultado e as repercussões das declarações a nível nacional e internacional que deverão continuar nos próximos dias.
Logo a seguir, Bolsonaro participou, em Fortaleza, de um ato religioso em que voltou à pregação direta do golpe e mesmo da suspensão das eleições. O tenente insubordinado, expulso do exército por tentar colocar bombas nos quarteis e cometer outros crimes, considerado insano pelos seus superiores, agora cobra o preço de ter sido guindado à presidente com o apoio dos militares, dos empresários, dos políticos e de amplas camadas reacionárias da população tocadas pelo sentimento antipetista. E sempre acenando com o apoio das forças armadas.
A histeria estimulada pelo presidente e sua família já começa a dar seus resultados. Além dos atentados contra as reuniões e passeatas do Lula, temos os dois assassinatos no Amazonas e agora o assassinato no Paraná. A lentidão da apuração e punição dos autores destes atentados pode agravar muito a situação e contaminar o processo eleitoral. E não custa relembrar que este foi o caminho para a instalação dos regimes fascistas no mundo (Vejam-se os casos da Alemanha e Itália). Bandos agressivos e armados fazem violências diante da passividade das forças de segurança que tinham o dever legal de proteger os cidadãos. A impunidade estimula novas ações que se repetem. As mudanças na esfera política oficializam a brutalidade. Instala-se o fascismo. Eis a ameaça que paira sobre nós.
No entanto, as reações que estão se esboçando no país e no exterior estão encurralando cada vez mais o presidente o que o torna ainda mais perigoso. Seu destempero está aumentando e sua ação parece querer provocar um desfecho violento para obrigar as instituições e a população a um confronto para o qual ele se vem preparando com a criação de seu exército particular bem armado. Não têm sido por acaso todas as medidas que vêm sendo tomadas para promover a compra de armas pelos seus partidários, além da corte que vem fazendo às forças armadas, particularmente às forças policiais. Diante da corrupção nos partidos políticos, que se reflete no parlamento, e da passividade das organizações operárias e populares, caminhamos perigosamente para depender do comportamento dos militares para a manutenção da democracia no país. Esperamos que mais uma vez eles não se prestem ao papel de “capitães do mato”, de jagunços na execução do trabalho sujo de reprimir o povo em defesa dos interesses de uma burguesia reacionária e atrasada.
A instabilidade criada por estas atitudes contribuem para desorganizar a atividade econômica e desestimular os investimentos. Não bastou a pandemia do covid-19 e a guerra na Ucrânia para instalar o caos no processo econômico mundial. De quebra temos um presidente que além de analfabeto ronda os limites da total insanidade e que almeja o posto de ditador. Torna-se assim muito difícil fazer qualquer previsão de evolução para a economia do país.
No vale tudo para ganhar as eleições foi aprovada da PEC das bondades ou PEC do fim do mundo, a que já nos referimos em outras análises, e que continua a impactar o país. Desesperado com os resultados das pesquisas o presidente, orientado pelas raposas do Centrão, resolveu apelar para as ações eleitoreiras mais descaradas. Não bastou o orçamento secreto, as emendas do relator e todas as transferências irregulares feitas através das estatais entregues ao centrão. O governo comprou o congresso e as tais legendas de aluguel e partidos que formam o lixão que é sua base de apoio. Ainda foi pouco. Não conseguiu virar o jogo. Surgiu então a ideia genial da PEC das bondades para distribuir diretamente dinheiro aos eleitores pertencentes às camadas mais empobrecidas da população. Isto foi feito no desespero, às vésperas das eleições, violando leis e a própria constituição. Não há previsão orçamentária e o rombo no orçamento vai aumentar. Como já referimos, a jogada surpreendeu mesmo a oposição que foi obrigada a aprovar tudo. Quem poderia se opor a concessão de auxílio aos mais pobres e necessitados?
Certamente este derrame de dinheiro vai provocar um aumento das vendas e esboçar alguma recuperação, mas tudo será passageiro. Em dezembro acaba deixando um rastro de destruição que criará muitos problemas para o futuro ganhador das eleições.
Mesmo com esta injeção monetária, até as eleições continuaremos a assistir ao aumento da inflação, à desaceleração da economia, paralização dos investimentos, fuga dos capitais estrangeiros. Não adianta mistificar nem ensaiar o papel de aprendiz de feiticeiro. A economia tem suas leis e os capitalistas são suficientemente espertos para cuidar de seus negócios e lucros.
O que se espera é que eles tenham apreendido a lição da ditadura de 64 e detenham os seus “generais do mato” para que fiquem fora do jogo e permitam a conclusão do processo eleitoral com a posse dos eleitos.