Bolsonaro: herói ou bufão?
Em todas as culturas, existe a figura mítica do herói. Ele representa o arquétipo do salvador no imaginário político. Forte, destemido e dinâmico, ele está sempre disposto a proteger seu povo e sacrificar-se por sua comunidade. Os exemplos são muitos, mas citarei apenas alguns mais presentes na cultura Ocidental: Hércules, Davi, Aquiles e Sansão.
Em 2018, Bolsonaro ganhou a eleição incorporando o mito do herói. Militar de profissão e paraquedista de formação, mesmo sem nunca ter disparado um único tiro em situação real, Bolsonaro adquiriu a aura de anjo vingador cultuado pela extrema direita brasileira.
Com linguagem chula e comportamento agressivo, Bolsonaro prometeu acabar com a corrupção, a violência urbana e afastar-se dos políticos profissionais. Não cumpriu nada disso. Como um típico populista reacionário, elegeu a ditadura militar como exemplo de regime político a ser louvado.
Durante todo o seu mandado, Bolsonaro agiu contra a democracia. Vociferou contra as instituições democráticas, conspirou contra as instâncias jurídicas, acusou de fraudulento o sistema eleitoral brasileiro e acenou positivamente para os golpistas de plantão. A impressão que dava era que, caso perdesse a eleição, daria um golpe de Estado.
Derrotado nas urnas, Bolsonaro emudeceu. Enquanto grupos bolsonaristas radicais bloqueavam estradas e marchavam diante dos quartéis, exigindo que os militares dessem um golpe contra o resultado das urnas, Bolsonaro e seus filhos isolaram-se num silêncio acovardado.
A fronteira entre o heroico e o ridículo é muito tênue, a exemplo do “patriota do caminhão”. Caso Bolsonaro não dê o grito de guerra definitivo contra as instituições, ficará desmoralizado diante dos bolsonaristas mais fanatizados. Se permanecer mergulhado no mutismo, Bolsonaro corre sério risco de passar de herói para bufão da história.