Paraíba: especialistas avaliam gestão João Azevedo
No último evento administrativo do ano, dia 26 de dezembro, o governador João Azevêdo (PSB) 2023 anunciou que fará um balanço das obras e ações realizadas pela gestão em 2023, nesta quinta-feira (4). Antes disso, reforçou, durante entrevista a jornalistas, que terminou o ano com a “Paraíba organizada nas finanças públicas com muito investimentos”. Somente em dezembro, apontou para R$ 1,4 bilhão de reais destinados à execução de obras, abertura de licitações e a manutenção de programas.
“Esse ano foi extremamente importante para a Paraíba, R$ 2,5 bilhões em programas de rodovias, mais de mil quilômetros em adutoras, com a proteção aos vulneráveis com a destinação de 1,3 milhão de refeições a preço de R$1 real, rompendo a barreira da média e alta complexidade para o interior do estado, duas UTIs aéreas e o programa Opera Paraíba e o Coração Paraibano”, avaliou em entrevista. O gestor já tratou de adiantar que vai fechar em 2024, uma grande rede de assistência médica e à saúde, com a construção do hospital da Mulher e o hospital de Clínicas de Campina Grande e até com o envio de um acelerador linear para a cidade de Patos”, disse.
Mas para além das questões administrativas, especialistas avaliam que 2023 foi importante para retomada da relação político-administrativa com o Governo Federal e para o fortalecimento das instituições democráticas na Paraíba.
O ‘Política Por Elas’ convidou cientistas políticos para avaliarem este primeiro ano do segundo mandato do governador da Paraíba, João Azevêdo. Para essas considerações, trazemos o professor titular do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o cientista político Gonzaga Junior.
Uma das questões unânimes entre os especialistas é que o governador João Azevêdo termina esse 2023, com uma relação política equilibrada com a Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB), o que terminou por garantir uma governabilidade interessante. Outro fator relevante foi a estabilidade entre os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).
“O protagonismo do executivo em harmonizar ações sociais com uma boa relação com os demais poderes marcou o ano, pois não se registrou turbulências entre o governo estadual e as outras duas esferas. E isso é bom para o atendimento das demandas da sociedade, principalmente dos setores mais vulneráveis”, apontou Lúcio Flávio Vasconcelos.
João Azevêdo destacou com frequência o equilíbrio fiscal conquistado, mesmo diante da crise dos últimos anos,e ainda um certo distanciamento com o Governo Federal, após quatro anos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, defensor da extrema direita no Brasil. O chefe do executivo estadual ressaltou em seus discursos por diversas vezes, os investimentos em obras estruturantes que têm conseguido impulsionar a economia e gerado emprego e renda. Destacou entre obras e condições importantes a recentemente a dragagem do Porto de Cabedelo, a construção o Centro de Convenções de Campina Grande, o pólo Turístico do cabo Branco, o complexo rodoviário Cabedelo-Santa Rita-Lucena, com a pujante capacidade de investimento e da nossa gestão fiscal, reconhecida pelo Tesouro Nacional com o rating A.
Em 2023, João Azevêdo ganha, enquanto governador e presidente do Consórcio Nordeste, com a reaproximação com o governo federal, a partir da vitória do presidente Luis Inácio Lula da Silva, integrante do mesmo espectro político, para o qual também fez campanha na eleição de 2022. A chegada do novo governo colocou a Paraíba em destaque com a conquista de orçamentos para grandes obras, como a triplicação da BR-230, investimentos em Campina Grande, com obras de mobilidade urbana, em João Pessoa.
O cientista político Gonzaga Júnior aponta para essa aproximação com o Governo federal como um dos pontos que mais fortalecem a administração de Azevêdo.
“É importante observar também na área da saúde, o hospital do Câncer e outras obras dadas a partir da aproximação com o governo federal, com essa aproximação administrativa e política com o governo federal. E por conseguinte, a relação próxima com os prefeitos, o que tem garantido uma articulação política mais consolidada no estado. Tem conseguido entregar obras e programas que tem equilibrado o jogo. Sem ousar em grandes questões, mas tem feito uma política básica eficiente e equilibrada que garante sua governabilidade. Uma boa articulação consolidada no estado e tem conseguido entregar obras e iniciar programas que tem trazido pontos fortes à administração. Tem feito uma política básica , suficiente e equilibrada. ”, opina Gonzaga.
Lúcio Flávio faz questão de voltar um pouco no tempo e ainda observar a atuação de Azevêdo durante a gestão da Pandemia da COVID-19, destacando que o pulso firme do gestor deu a ele gabarito para figurar como a mais importante persona da política na Paraíba.
“A sua condução firme e ativa durante a pandemia em defesa da vida e pautado em princípios científicos o credenciaram para disputar um segundo mandato. João Azevedo enfrentou forças da extrema direita em 2022 que reproduziram, no estado da Paraíba, a polarização que dominou o cenário nacional. Mesmo assim, conseguiu se reeleger e manteve, nesse segundo mandato, os mesmos princípios que nortearam o seu primeiro mandato: serenidade com os demais poderes e investimentos nas áreas sociais”, avalia ainda colocando os bons resultados do Orçamento Democrático, que tem se mostrado eficaz em ouvir a população e encaminhar as demandas, dentro dos parâmetros orçamentários.
Uma política próxima e equilibrada com a ALPB trouxe segundo os especialistas o traço da governabilidade para a atual gestão, com a aprovação de matérias interessantes para o governo, uma vez que tem-se maioria ampla no parlamento. “Creio que os pontos fortes, no âmbito político, sejam o bom diálogo com os setores públicos e apaziguamento de conflitos com a Assembleia Legislativa, além de manter o relacionamento respeitoso com os movimentos sociais. Além disso, a boa relação com o judiciário e aprovação nos tribunais de contas”
A jornalista de política e editora do ‘Política por Elas’ Rejane Negreiros, também fez uma análise do atual cenário. Para a especialista, João Azevêdo concentra-se em obras cruciais de segurança hídrica, como a barragem de Cupissura e a adutora Translitorânea, além de projetos de mobilidade como o aeroporto de Patos, o Arco Metropolitano de Campina Grande e a construção da Ponte ligando Santa Rita, Lucena e Cabedelo. Essas ações fortalecem sua posição política, pavimentando o caminho para uma possível candidatura ao Senado em 2026. Embora tenha expressado disposição para isso, Azevêdo ainda precisa decidir entre a eleição e o compromisso com o PSB.
“Administrativamente, ele mantém as contas equilibradas, evidenciado pela saúde fiscal do Estado, permitindo o pagamento do piso nacional da enfermagem. Destacam-se também a realização de concursos na Educação e investimentos na ampliação de escolas integrais.
Politicamente, Azevêdo demonstra habilidade ao manter alianças e apaziguar grupos ávidos por poder, como Progressistas e Republicanos. Essa capacidade de mediação reflete um inequívoco senso de articulação política. Contudo, apesar dos investimentos em segurança e da implantação do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração da Polícia Civil, a segurança pública ainda é um desafio em sua gestão. As iniciativas não foram suficientes para resolver as tensões entre a categoria e o governo. Quanto à permanência no PSB, essa questão permanece uma incógnita”, diz.
Em suas análises, os especialistas não apontam fragilidades, mas consideram a necessidade de mais ousadia na atual gestão estadual, quando se pensa em um projeto de futuro, apontando quais os desafios para os próximos 30, 50 anos.
Gonzaga Júnior destaca problemas hídricos do Semiárido paraibano, que ocupa pelo menos 80% do território paraibano. Problemas que segundo ele, vão além das grandes construções, mas que necessitam de programas de convivência com a seca, na assistência técnica, a questão das indústrias, para a instalação das agroindústrias, micro indústrias, ainda é necessário a apresentação de projetos que olhem para um futuro mais prolongado.
Recentemente, o parlamento paraibano trouxe uma contribuição nesta temática e o governador João Azevêdo terminou por sancionar um conjunto de diretrizes sobre a política estadual de educação contextualizada para a convivência com o semiárido nas escolas da rede pública estadual de ensino da Paraíba.
No mês passado, o próprio Tribunal de Contas do estado (TCE) trouxe a discussão à tona. “Seminário de Políticas Públicas de Combate à Desertificação do Semiárido”, desde 2017 que o TCE vem realizando auditorias operacionais abordando o avanço da desertificação e degradação desse bioma. Uma recente Auditoria Regional Coordenada em Políticas Públicas, feita ainda em 2022, terminou por constatar a omissão, ao longo dos anos, para traçar políticas públicas envolvendo os três níveis de governo, e elas são indispensáveis para enfrentar o desequilíbrio ecológico que se estabeleceu.
Para o professor Lúcio Flávio o maior desafio para 2024 ainda está na educação, com a necessidade da ampliação de escolas técnicas estaduais. “O desenvolvimento econômico passa, inexoravelmente, pela expansão quantitativa e qualitativa da rede educacional, principalmente em aporte financeiro em equipamentos educacionais de maneira descentralizada, isto é, em cidades do interior. Só com professores qualificados e bem remunerados, escolas bem equipadas e material didático de última geração é que teremos um salto para o futuro no âmbito educacional”, coloca.
O cargo de governador do estado traz consigo um peso político para o qual ambos especialistas afirmam João ter se mostrado eficiente e capaz. Mas com um 2024 de eleições estratégicas tanto para o partido ao qual João está ligado,o PSB, quanto para a permanência do próprio como quadro político na Paraíba, é preciso se definir um caminho a seguir. Em se tratando de estratégia política, Lúcio Flávio avalia que é preciso focar em ações importantes nos grandes centros urbanos, principalmente na grande João Pessoa, região em que não foi vitorioso em 2022.
“A permanência do João Azevedo no PSB é de fundamental importância para a disputa de uma cadeira no Senado em 2026. Não podemos esquecer que o vice de Lula (PT), Geraldo Alckmin, pertence ao PSB. Sua eventual saída do PSB atrapalharia seu diálogo no âmbito nacional. Para tentar reverter o quadro desfavorável de João Azevedo em João Pessoa, é preciso manter a aliança com Cícero Lucena (PP), prefeito da capital e candidato à reeleição que lidera as intenções de voto. Romper com Cícero sem contar com um candidato a prefeito competitivo seria um erro estratégico”, diz.
Gonzaga afirma que João Azevêdo, que já demonstrou sua habilidade no Consórcio Nordeste, necessita de um trabalho para consolidação do campo progressista, uma estratégia política para esse campo seria a coalizão com PC do B, PT, PV, Rede, para que o PSB de Azevêdo possa se colocar dentro de um projeto mais ousado.
“Esse campo capitaneado pelo PSB, abastecido a partir do próprio governo, termina fragilizado para as disputas que se avizinham para 2024, que vai responder em 2026, considerando que o governador deve lançar o nome de substituição e talvez, se lançar ao senado”, analisa Gonzaga Junior.
“Só os acordos políticos com as cúpulas políticas não são suficientes para garantir uma eventual cadeira de senador. É preciso conquistar corações e mentes da maioria da população com ações concretas que tragam benefícios para a maioria dos eleitores. Não podemos esquecer que os cidadãos estão cada dia mais críticos com os políticos profissionais e cientes dos seus direitos”, aponta Lúcio Flávio.