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Três anos de resistência: a luta das reitora e vice-reitora eleitas contra a intervenção na UFPB

No dia 5 de novembro de 2020 a comunidade acadêmica da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) recebeu a notícia de que após um processo eleitoral que refletiu a vontade da comunidade, o então presidente Jair Bolsonaro havia noemado para reitor o terceiro colocado nas eleições, abalando a autonomia universitária e desencadeando, com isso,  uma onda de resistência e mobilização.

Três anos se passaram, marcados por desafios e tensões na conturbada gestão do chamado interventor Valdiney Veloso. Neste contexto, Terezinha Domiciano e Mônica Nóbrega, reitora e vice-reitora eleitas, emitiram uma nota oficial em defesa da autonomia e liberdade acadêmica.

Leia a nota na íntegra:

LEMBRAR PARA NUNCA MAIS!

Olhar, ver e reparar são maneiras distintas de usar o órgão da vista. Só o reparar, no entanto, pode chegar a ser visão plena” (José Saramago, A Cegueira).

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No dia 05 de novembro de 2020, há exatos três anos, a comunidade paraibana, em especial todos/as que integramos a UFPB, acordamos vítimas de um duro golpe: fora nomeado pelo então presidente da república, Jair Messias Bolsonaro, para exercer a função e reitor da UFPB, o professor Valdiney Gouveia, terceiro e último colocado na consulta democrática, transparente e participativa, feita naquele ano à comunidade acadêmica, com pouco menos de 5% dos votos, e zero voto no colegiado eleitoral (Conselho Universitário, CONSEPE e Conselho Curador) da UFPB.

O golpe, também realizado em outras 24 IFES no Brasil, configurou-se como uma afronta à autonomia das universidades federais, abalando sua base principal: a democracia. Pela primeira vez na história da UFPB, desde que a consulta eleitoral foi estabelecida para escolha de reitor/a da instituição, a chapa vencedora (Terezinha e Mônica), escolhida e legitimamente eleita pelo voto direto, foi impedida de exercer seu mandato. Em consequência, um projeto de universidade, aprovado pela sua comunidade, foi impossibilitado de ser executado, passando a UFPB, dessa forma, a ficar refém de uma ideologia, a do governo federal à época, única responsável pela chegada à reitoria do professor Valdiney Gouveia e Liana Filgueira, portanto, referência principal a nortear sua gestão.

É preciso lembrar que o golpe imposto não ficou sem resistência. Na UFPB, ressaltamos a realização de atos públicos, lives e a emissão de diversas notas de repúdio de inúmeras entidades não apenas paraibanas, mas nacionais. Independente de posições ideológicas e políticas ou mesmo de quem apoiaram nas eleições para a Reitoria, foi criado,na UFPB, o Comitê de Mobilização pela Autonomia e contra a Intervenção na UFPB, com participação de inúmeras entidades representativas, movimentos, coletivos e indivíduos da comunidade universitária. Em nível nacional, foi criado, com nossa participação desde o início e até o presente, o Fórum Nacional de Reitores/as eleitos/as e não nomeados/as, que tem como integrantes, além dos/as reitores/as e vice-reitores/as eleitos/as e não nomeados/as, os diversos sindicatos e demais entidades representativas ligadas à educação no Brasil.

Nesses três anos, a UFPB tem sofrido com uma gestão superior marcada principalmente pela falta de diálogo com a comunidade universitária o que reflete em todo o dia a dia da instituição, a exemplo do CONSUNI, com sua regularidade afetada pela falta de representatividade da reitoria da UFPB. Não há o que comemorar a não ser o Projeto de Lei, em discussão no Congresso Nacional, decorrente de mobilizações ao longo desses anos de intervenções, que acaba com a lista tríplice, determinando a nomeação do primeiro lugar na eleição realizada pela universidade. Dias de desrespeito à livre e democrática escolha. Ao fim desse terceiro ano é preciso lembrar, com vistas a Intervenção nunca mais. Lembrar para não esquecer! Lembrar para ver com olhos de esperança!

Intervenção na UFPB NUNCA MAIS!

Terezinha Domiciano (Reitora eleita da UFPB) & Mônica Nóbrega (Vice-reitora eleita)”.