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Como a Finlândia está usando as escolas para combater fake news

Na Finlândia, esse alerta soou com antecedência. Desde 2014, as redes de ensino finlandesas incluíram o letramento midiático como parte do currículo regular para as turmas do Ensino Fundamental e Ensino Médio. O que motivou o país a investir no letramento midiático desde cedo foi evitar que a democracia fosse questionada, como aconteceu na região da Criméia, disputada entre Ucrânia e Rússia neste mesmo período.

Cinco anos depois, em 2019, o país nórdico tornou-se uma referência em educação midiática, ocupando o primeiro lugar no ranking que mede o combate à desinformação. O índice Media Literacy Index, avaliado pelo Open Society Institute de Sofia, apontou a Finlândia entre os 35 países mais resilientes à influência de boatos e notícias falsas. Dinamarca, Holanda e Suécia são os três colocados imediatamente depois.

“É claro que é sempre bastante raso ranquear sistemas de ensino e comparar países com dimensões geográficas, socioeconômicas e culturais diferentes. Por outro lado, é importante conhecer iniciativas que demonstram evidências e resultados, especialmente a longo prazo como na Finlândia. Educação de qualidade, imprensa livre e conscientização sobre a desinformação são elementos fundamentais para uma democracia forte, dentro e fora das escolas”, escreve Mariana Mandelli, coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta, em artigo para a Folha de São Paulo.

Pensamento crítico interdisciplinar 

No ano de 2016, a Finlândia aprovou um currículo nacional — muito semelhante à proposta da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) no Brasil — que estabelece o pensamento crítico e a alfabetização em diversas plataformas como componentes centrais. A ideia é que as escolas trabalhem educação midiática de maneira transversal e interdisciplinar.

Localizada na capital finlandesa Helsinque, a escola estatal French-Finnish School inicia o letramento midiático a partir dos seis anos de idade. Ao mesmo tempo que os estudantes aprendem sobre a estrutura de uma notícia falsa, também entendem como essa distorção pode se refletir nas estatísticas, nas imagens manipuladas e no rumo da história geopolítica do mundo.

Na maior parte das vezes, esse aprendizado vem por meio de projetos, que incentivam os estudantes a colocar a mão na massa e investigar uma fake news. Dessa forma, desenvolvem competências que os preparam para fazer esse exercício em situações cotidianas, e também propagar esse conhecimento para seus familiares e demais membros da comunidade.

“O que queremos que nossos alunos façam é que antes de curtirem ou compartilharem nas redes sociais, eles pensem duas vezes. Quem escreveu isso? Onde foi publicado? Posso encontrar as mesmas informações em outra fonte?”, explica o diretor Kari Kivinen, em entrevista para a CNN Estados Unidos.

Kivinen também foi secretário geral do Observatório Euipo (Escritório de Propriedade Intelectual da União Europeia), trabalhando em projetos de extensão educacional no continente europeu.“O que temos desenvolvido aqui – combinando a verificação de fatos com o pensamento crítico e a alfabetização do eleitor – é algo necessário e que tem despertado interesse em muitos outros lugares fora da Finlândia”, concluiu.

Combate à notícias falsas no Brasil 

No Brasil, o debate sobre educação midiática é mais recente. Segundo estudo realizado pela empresa global de cibersegurança Kaspersky62% dos brasileiros não sabem reconhecer uma notícia falsa. Ainda assim, as diretrizes apontadas pela BNCC incluem caminhos e possibilidades para reverter esse cenário.

Componentes como cultura digital e o campo jornalístico-midiático são contemplados como competências essenciais para os desafios encontrados por crianças e jovens do século XXI. Ambos incluem práticas pedagógicas que incentivam a cidadania digital, diferenciação de gêneros midiáticos, ética e responsabilidade informacional.

“Tudo isso deve, é claro, contar com apoio das redes de ensino, que devem atuar na formação dos professores e no fornecimento de recursos e materiais que permitam o trabalho pedagógico correspondente ao que demanda a BNCC”, apontou Mariana Mandelli.

Projetos como o EducaMídia, do Instituto Palavra Aberta, auxiliam e capacitam educadores para engajá-los neste comprometimento com o letramento midiático. Com apoio do Google.org, a iniciativa capacita professores e centraliza recursos como planos de aula e materiais didáticos alinhados com a Base. Tanto o acesso aos conteúdos quanto a formação são gratuitos.

Extraído de Fundação Telefônica Vivo