PSDB reclama terceira via e Pedro Cunha Lima critica desembarque da base de apoio de Bolsonaro
É fácil reconhecer muitos dos arrependidos que apertaram 17 em 2018. São grandes defensores da “terceira via” que tentam emplacar sob a retórica de que “Lula e Bolsonaro são as duas faces de uma mesma moeda”. Na verdade, é um bolsonarismo sem Bolsonaro, porque, embora se afastem do presidente em sua pautas mais reacionárias – aquele para mobilizar terraplanistas e negacionistas – bem ao estilo “follow the money” concordam e defendem toda a agenda econômica neoliberal radical do governo.
Críticas da chamada grande imprensa, da FEBRABAN e até de setores do agronegócio, somadas às reações verificadas no Congresso e no STF, forjam um novo clima político. O presidente fica em um pêndulo: de um lado, precisa manter mobilizada sua base radical e de outro, este movimento aumenta sua dependência do Centrão. Os atos antidemocráticos de 7 de setembro com participação e incitação do próprio Jair Bolsonaro em exercício do cargo foram os propulsores ou a desculpa que faltava para alguns pularem do barco muito embora, até então, navegassem sem restrição e sem qualquer tipo de constrangimento nesse mar tempestuoso. Nem a economia patinando em juros altos e a inflação dos alimentos, dos combustíveis e do gás de cozinha, nem o avanço do desemprego e da fome, tampouco, os assanhos autoritários de Jair, os animaram. Foi a possibilidade de apontar como um caminho diante do enfraquecimento político do até então aliado que os instigou.
Daí se tira que o projeto deste grupo, os bolsonaristas arrependidos, não é fazer o país se recuperar economicamente, tampouco mudar a rota regressiva em que o Brasil se encontra depois de tamanha incompetência de gestão. O objetivo real é o poder, a retomada de um espaço perdido para a extrema direita representada por Bolsonaro e apoiada pelos mesmos que hoje pregam a falsa simetria entre um presidente de caráter autoritário e um ex-presidente (Lula) que insistiu em um governo de conciliação e foi vítima dele.
Nem todos os partidários do “nem Lula, nem Bolsonaro” estão confortáveis com o rompimento. Dentro do PSDB, por exemplo, o paraibano Pedro Cunha Lima é voz dissonante. Em entrevista à rádio Correio FM, que repercutiu na Revista Fórum, ele criticou a decisão do partido: “Não penso que fazer uma oposição sistemática a Bolsonaro, ao modelo que o PT faz, seja o papel que eu deva cumprir. Claro que o governo merece críticas em vários pontos. A condução na pandemia merece uma crítica e a gestão que o governo faz na educação não é eficiente. De resto, não vou fazer oposição de quanto pior, melhor”, argumentou.
O posicionamento de Pedro denuncia uma alta adaptação ao arbítrio – pra não falar conivência uma vez que o deputado abertamente passa pano nos crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente e apontados por juristas e ministros do Supremo Tribunal Federal. A depressão econômica que levou boa parte do mercado a abonar o apoio ao governo dado o clima de instabilidade e a má condução da crise sanitária que aprofunda os abismos social e da educação brasileira não merecem outra reação senão críticas.
Uma coisa é certa: o PSDB não só deu sustentabilidade a Bolsonaro até dias atrás como também lhe deu causa quando apoiou sua narrativa golpista no segundo turno das eleições presidenciais de 2018 e, antes disso, quando, diante de uma eleição legítima, questionou o resultado das urnas em 2014 e pediu recontagem dos votos. Começava ali uma história de conspiração que fragiliza até os dias atuais a imagem e a credibilidade da justiça eleitoral. Não se sabe qual o cálculo político do deputado Pedro Cunha Lima, mas entre o governo e o seu partido parece escolher o primeiro. O PSDB paga um preço por suas decisões nos últimos anos. Se antes ocupava um dos polos da política nacional, hoje tenta reverter a posição de linha auxiliar do bolsonarismo no Congresso.
Há uma certa ironia nisso tudo. Permanecendo ou abandonando Bolsonaro agora, os objetivos não diferem. E se for preciso votar nele uma vez mais em 2022, o farão sem remorso, repetindo a ladainha da “escolha difícil”. No fim das contas, a terceira via é só conversa pra boi dormir: um velho museu sem grandes novidades.