Um PT entre Ricardo Coutinho e Anísio Maia
Oficialmente Ricardo Coutinho ainda não voltou ao PT. A filiação do ex-governador deve ocorrer nos próximos dias e é fruto de uma costura que passa pela Executiva Nacional do partido. Mas, isso é mera formalidade. Na prática, Ricardo já atravessou a porteira e reuniu militantes neste fim de semana, em João Pessoa. O evento contou com lideranças do PT paraibano e pessoense, mas foi voltado para jovens e marcou a filiação de boa parte do grupo. É o que chamaram de uma ‘Nova primavera na Paraíba’.
O retorno de Coutinho ao PT, no entanto, não é ponto pacífico entre petistas. Há uma resistência na maioria do Diretório Regional. O presidente Jackson Macedo não tem maioria na instância, dizem. Além dele, defendem o ingresso de Coutinho os grupos do ex-deputado Rodrigo Soares, o vereador Marcos Henriques e o ex-deputado Luiz Couto. Aliás, estes só têm o domínio do Diretório Municipal de João Pessoa devido a uma intervenção da Direção Nacional.
Entre os contrários a esta filiação está Anísio Maia, deputado estadual, ouvido por esses dias pelo Conselho de ética nacional do partido que pode determinar a expulsão do parlamentar. É o preço da fatura cobrada a um dos fundadores do partido na Paraíba por ele bater o pé e manter o sua candidatura a prefeito de João Pessoa em 2020, desobedecendo, assim, o orientação de cima. Aliás, candidatura construída com a unanimidade do Diretório Municipal, diga-se de passagem, antes da já citada intervenção.
Anísio não é o único contrariado com a abertura das portas do PT para Ricardo e companhia. Recém filiados como Sandra Marrocos, que não conseguiu se eleger em 2020 – consequência direta do fim das coligações nas eleições municipais – estão dispostos a deixar a agremiação. É o efeito que Ricardo produz: adverso em uns, benéfico em outros. Mas ainda que não seja unanimidade, o ex-governador conta com fortes aliados. A avaliação geral de petistas é que ele soma, traz resultados em um momento que “é preciso unidade das esquerdas contra os retrocessos do bolsonarismo”, disse Marcos Henriques.
Há duas mensagens aí. A primeira é simbólica: a luta do “bem contra o mal”. A outra é material, pragmática. Há um capital eleitoral acumulado por Ricardo que o PT “e seu extremo sentido de possibilidade” (MIGUEL, 2016) não quer descartar. O retorno de Coutinho ao PT, seu discurso contra o lavajatismo e o bolsonarismo, e a possibilidade, mesmo que remota, de uma uma candidatura em 2022 cumpre uma função ideológica porque gera mobilização. As palavras de Jackson Macêdo reafirmam isso: “Ricardo é a maior liderança de esquerda da Paraíba, é uma das maiores referências nacionais da luta contra o governo Bolsonaro, respeitado no país inteiro por todos os partidos que compõem o campo democrático popular”, diz ele. Mas, o movimento vai além disso. Com Ricardo, o PT ganha mais duas deputadas: as socialistas Cida Ramos e Estela Bezerra.
Como ainda há um embaçamento sobre as regras eleitorais para 2022, o PT se antecipa. Com ou sem coligações, garantir o aumento da bancada é estratégico uma vez que a organização nos Estados reverbera na corrida presidencial. Outro fator: crescimento do partido. Cerca de 50 filiações foram registradas no sábado (05), de acordo com a direção estadual, durante o evento com Ricardo. Esperava-se, segundo fonte segura, pelo menos 100. Atualmente, o partido tem 44.417 filiados na Paraíba e há tendência de crescimento, não por Ricardo mas por Lula, a tirar pelo injeção de ânimo pós anulação das sentenças contra ex-presidente no âmbito da Operação Lava Jato.
Não é só política, é matemática – se bem que não são excludentes – e no adiantar das contas, os dois pesos, Anísio e Ricardo, parecem não ter a mesma medida para a cúpula do PT que defende o retorno do socialista ao partido que bateu por duas décadas. Para este grupo, capitaneado por Jackson Macêdo, a mensagem que ora é passada se resume em uma frase: “Anísio que me desculpe, mas Ricardo é fundamental”. Resta saber: o ex-governador chega de volta para ser liderado ou para liderar? A menos que tenha participado das negociações, o atual presidente da legenda deveria se preocupar.
Como não há ação sem reação, as consequências de uma decisão tomada sem combinar com a base virão. Se terão o impacto de uma tsunami ou de uma marolinha, o tempo dirá. O PT está pagando pra ver e Anísio é quem pode pagar o pato. Ele e todos os outros que rebunciaram a direção do PT local. A saber: Giucélia Figueiredo (ex-presidente), Anselmo Castilho (advogado) e Josenilton Feitosa (ex-coordenador de zonas do partido). Uma coisa é certa: enquanto uns já contabilizam as possíveis perdas, outros estão na expectativa dos lucros. O PT é uma tábua de salvação para Ricardo Coutinho: além de Lula, tem o maior tempo de TV e maior fundo eleitoral. É ele quem mais ganha nisso tudo.