Opinião

Morto, preso ou vitorioso?

Lúcio Flávio Vasconcelos

Em 1990, Alberto Fujimori foi eleito presidente do Peru. Até a campanha eleitoral, ele era totalmente desconhecido da população. Obscuro professor de agronomia, Fujimori nunca havia exercido qualquer cargo para além dos muros da universidade.

Durante a disputa presidencial, apresentou-se à população como um candidato fora do esquema político tradicional, contra tudo e contra todos.

Para concorrer à presidência, Fujimori fundou um partido, o Câmbio 90, e, dirigindo um trator pelo país, fez sua campanha afirmando que iria combater o comunismo, a velha política, a burocracia estatal e a corrupção. Um típico discurso populista de direita. Apuradas as urnas, Fujimori havia vencido Mario Vargas Llosa, seu adversário mais forte.

Depois de empossado, Alberto Fujimori colocou em prática uma série de medidas econômicas que visavam estancar a escalada inflacionária. Flexibilizou os preços do setor privado, diminuiu os investimentos estatais, demitiu funcionários públicos. No fim das contas, a gasolina subiu 3,000% e a eletricidade 500%.

A população reagiu ao pacote econômico e foi às ruas. Os protestos foram reprimidos duramente. No dia 5 de abril de 1992, Fujimori deu um golpe de Estado, com apoio do exército e da Polícia Nacional. Recém-chegado em solo peruano, visando desenvolver minha pesquisa de mestrado, fui testemunha ocular dos tanques que tomavam as ruas e instalavam o caos no país. Fujimori dissolveu o Congresso, fechou o Poder Judiciário, o Ministério Público, o Tribunal Constitucional e o Conselho da Magistratura.

Bolsonaro deseja aplicar o mesmo receituário fujimorista no Brasil. No momento em que sente sua popularidade cair diante do descaso com a pandemia, aumento da pobreza, alta do desemprego e escalada inflacionária, ele parte para o ataque.

Suas agressões ao Supremo Tribunal Federal, a campanha contra o voto impresso, as críticas à imprensa livre e o incentivo às ações antidemocráticas revelam o desejo de por em prática um autogolpe.

As manifestações convocadas para o dia 7 de setembro serão decisivas para próximos desdobramentos políticos. Será a travessia
do Rubicão para o Bolsonarismo. Se elas forem maciças, com agressões contra o STF e o Congresso Nacional, Bolsonaro pode se sentir encorajado a seguir no seu roteiro golpista.

Se as manifestações antidemocráticas fracassarem em mobilização e não conseguirem intimidar o Congresso Nacional e o STF, Bolsonaro se sentirá enfraquecido e recuará, temporariamente, no seu intuito de se perpetuar no poder. Caso isso aconteça, ele perderá boa parte do seu apoio na sociedade, que já está se esvaecendo.

Bolsonaro já vaticinou o futuro que lhe aguarda: morto, preso ou vitorioso. Quanto a Alberto Fujimori, depois de 10 anos no poder (1990-2000), ele foi julgado e condenado por formação de quadrilha, assassinatos, corrupção e malversação de dinheiro público. Atualmente, Fujimori cumpre uma sentença de 13 anos de prisão.