Opinião

Mulheres incomodam quem não sabe lidar com as diferenças e com o respeito

Aprendi cedo que deveria me posicionar. Primeiro foi no instinto. Cresci em uma casa de homens: seis irmãos e meu pai. Minha mãe, minha irmã e eu éramos minoria. Era um ambiente que reverberava a cultura machista intrincada em cada gesto e palavra. Minha primeira aula de empoderamento veio de um irmão, aos 13 anos. “Seja a melhor em tudo o que faz”, disse ele. Não sei se havia ali uma questão de gênero permeando a mensagem. Provavelmente, não. Sei o que entendi e que ficou mais claro dia após dia: ‘se esforce, nada virá fácil porque você é mulher e pobre em universo que não perdoa o feminino e o coloca em posição de subalternidade. Lute.’

Me vesti dessa lógica. Ela me deu força, foi estímulo e escudo. Mas nunca foi fácil. E olhe que sou branca e isso me coloca em posição de privilégio em relação às mulheres negras porque com elas a violência e a opressão são ainda maiores. Há um estigma na cor. Ela tem sido usada para desqualificar – traço de uma colonialidade que alimenta também a subalternidade e que tem a ver com padrões de poder e dominação. Se for mulher, negra e LGBT, nem se fala! O grau de dificuldade para se estabelecer é ainda mais penoso. Embora estejamos em uma primavera feminina e testemunhemos o desabrochar de um tempo que nos reserva mais espaços de fala, o machismo é inverno perene. Tentam nos calar todos os dias. Quando não pela força, pelo grito.

Episódio recente é prova inconteste disso. Parlamentares paraibanos da ala bolsonarista afiaram a língua para reduzir tamanho e importância da participação da secretária e jornalista Lídia Moura, da senadora Daniella Ribeiro e da deputada Pollyana Dutra na política local. Para eles, ou são insignificantes ou são fantoches que operam em nome de algum rei. É aquela velha fixação pela figura do macho-alfa junto com uma necessidade irracional e autoritária de se colocar como centro do universo. Não cabe citá-los. Não são eles que importam, mas o debate em torno de um comportamento sexista que objetifica e exclui. Importam a dignidade e a projeção da mulher como sujeito que pensa, sente, produz, age e merece respeito e oportunidades. Nisso, Lídia, Daniella e Pollyana são referência e, justamente por isso, incomodam.

Li em algum lugar que a luz incomoda as trevas. Machismo, sexismo, preconceito são manifestações trevosas porque representam retrocesso moral, social e humano. Que possamos todos, sem distinção de gênero e cor, lutar contra isso. Só combatendo as forças do atraso teremos mais Lídias, Daniellas e Pollyanas  furando bloqueios e menos incomodados na política e no mundo.