Opinião

Messias, Romero e Bruno: juntos por um projeto de extrema-direita

A visita de Jair Bolsonaro (sem partido) à Campina Grande em boa medida foi uma validação de seu projeto de reeleição e de seu apoio à candidatura de Romero Rodrigues, ex-prefeito da cidade, ao governo da Paraíba em 2022. Este, por sua vez, demonstrou um tipo fidelidade cega ao Messias. Há quem diga que foi demonstração de força. Vejo como demonstração de fraqueza. Em pleno recrudescimento da pandemia, Romero, presidente do PSD paraibano, prestou continência, baixou a cabeça ao capitão e engrossou o bloco dos negadores da doença, escancarando profundo desrespeito à população da cidade. Aglomerou, não usou máscara e posou pra foto sorridente em evento que soou como escárnio em meu ao sofrimento de tantos.

Bolsonaro tem sido condutor de um movimento antivacina. Os que o apoiam sequer podem ser acusados de omissão. O pecado repousa na participação. Podem negar, dizer que foi um mero encontro republicano, mas o gesto não admite pretextos. Foi inoportuno, e não só pela pandemia. Paira sobre nós um extremismo que se pauta pela violência, pelo ódio e que chegou às entranhas do poder na onda antipetista de 2018. Agora, um inexpressivo parlamentar rouba o noticiário e as discussões na Câmara Federal. Mas ele não é o importante. O que ele carrega consigo, sim. Falo do projeto de ruptura democrática, das investidas contra o estado de direito que avança. O deputado é produto de algo maior e muito mais nocivo porque é radical, irracional e fundamentalista: o bolsonarismo.

Além de Romero, um outro abraçou a causa. Bruno Cunha Lima (PSD), prefeito de Campina, seguiu o padrinho. Ao flertar com Bolsonaro, ratificou sua posição. Não há política nova nessa história. Há, sim, uma repetição de velhos costumes em nome de projetos de poder. Querer fazer diferente se aliando ao que há de mais rasteiro na política soa embaraçoso e contraditório. Não é um bom começo para inicia a vida pública no Executivo. Bruno pode ser maior que isso. Será?

Há um movimento claro que parte dos pessedistas. Bruno e Romero querem ocupar um espaço que foi, por muito tempo, exclusivo dos primos tucanos. Os Cunha Lima de Ronaldo e Cássio sempre cantaram de galo na região. O projeto dos dois é de extrema-direita – em Campina encontram solo fértil pra isso pelo perfil conservador do eleitorado local – por isso se apegam a Bolsonaro. Mas ambos deixam de considerar duas coisas nessa empreitada: uma delas diz respeito ao perfil do restante do eleitor paraibano que tem demonstrado um comportamento progressista há duas décadas. A segunda questão: a influência dos ventos de outrora sobre a onda conservadora resistirá até 2022?

Trago aqui as palavras de um amigo:  “a política está pedindo políticos como são Bruno e Romero. E o discurso de outsiders já não está provocando o mesmo impacto”. Em resumo: a antipolítica e os que a disseminam e provocam estão em declínio. As eleições 2020 refletiram isso. Poucos bolsonaristas se elegeram. O extremo foi derrotado pelo centrão. Bruno e Romero podem tentar se vender como centro, mas, como disse antes, o gesto não admite pretextos e as imagens de agora falam por si mesmas.