Vai dar PT no PT?
O PT Nacional pediu a expulsão de Anísio Maia. Dele, da presidente afastada do partido em João Pessoa, Giucélia Figueiredo, e de mais dois membros do diretório municipal: Josenilton Feitosa e Anselmo Castilho. Sônia Braga, secretária nacional da legenda e autora do pedido, diz que o grupo “violou flagrantemente a disciplina, a fidelidade e a ética partidária”. Overdose de pós-modernismo onde cada ponto de vista é a vista de um ponto. Braga se apropriou disso. Relativizou a questão como se relativo fosse o apoio de Anísio ao partido que ajudou a fundar.
O processo traz ainda mais desgaste à legenda. Cheira a assédio. O objetivo – cristalino – é provocar uma renúncia por parte do Anísio em nome da candidatura socialista na capital paraibana. Mais um dos abusos do PT contra o petista submetido a um calvário que não cabe dentro de um processo democrático. O PT comete erro crasso. Não pela decisao de apoio a Ricardo Coutinho, mas pelo caminho que escolheu para fazê-lo, impondo um dos seus a um flagelo. Quem foi infiel a quem?
Há, como se vê, um problema na forma. Mas há também no conteúdo. As acusações do PT nacional contra Anísio não se sustentam, nem convencem. Basta ver, para ficar só no campo da infidelidade, os acordos feitos nos ultimos anos – quanto o PT ainda estava no governo – em busca da governabilidade, ou agora, em 2020, quando o PT se alia a candidaturas de direita com justificativas inviesadas que caminham na contramão do discurso ora posto. Quem está sendo infiel então?
Burocrática, autoritária e incapaz de revisar os próprios atos, a alta cúpula do PT mostra uma grande desconexão com a base do partido e com as mudanças sociais próprias da história em construção e reflexo das crises pelas quais passamos. Em outro momento a população já rejeitou esse modelo, e isso foi uma das causas, não da germinação, mas da amplificação do fenômeno do antipetismo, especialmente entre os mais jovens.
Se tudo na vida é equilíbrio, peca a cúpula petista pelo passo que dá agora e pelos passos que deu outrora na direção oposta ao debate e à construção de um pacto democrático. Presa a um pragmatismo levado ao extremo, essa mesma cúpula afoga a possibilidade de uma reconciliação do PT com aquela que é sua coluna vertebral – falo dos militantes como Anísio Maia – e com o eleitorado em Joao Pessoa.
Em tempo: se os acordos propostos em detrimento da candidatura petista na capital paraibana não aglutinam, mas, pelo, contrário, promovem divergências e rupturas, não podem ser considerados uma frente, tampouco uma frente ampla. A ordem que vem de cima, portanto, carece de ética. Resta a disciplina segundo a lógica bragueana, e, com ela, um grande paradoxo, já que neste caso disciplina se confunde com obediência. É disso que se trata? Se é, tem algo fora de ordem no PT, e não me parece que seja Anísio.