Sem esperança, Pablo Honorato (PSOL) desiste de candidatura à Prefeitura da Capital
Campanhas eleitorais tem suas surpresas. A mais nova foi o anúncio feito nesta quarta-feira pelo então candidato do PSOL à prefeitura da capital. Pablo Honorato desistiu da disputa e deixou o partido.
Escolhido em convenção dia 8 de setembro, Pablo não suportou o peso de um processo eleitoral que, segundo ele, é carregado de vícios e “apodrecido”. Disse que não se preparou psicologicamente para uma disputa tão violenta, marcada por mentiras e corrupção. Disse ainda que a falta de estrutura financeira e de militância comprometida com sua candidatura pesaram na decisão.
O PSOL ainda não se procunciou.
Segue a carta de Pablo Honorato:
CARTA DE DESFILIAÇÃO OU A HISTÓRIA DE UM EX-CANDIDATO QUE NÃO CONSEGUIU REPRESENTAR ESPERANÇA PORQUE PERDEU A ESPERANÇA
Comunico a todos os que até aqui manifestaram com muito carinho o seu apoio que, apesar disso, estou retirando meu nome da disputa eleitoral.
De fato, não me vejo candidato a um cargo político. Acho que não é uma tarefa fácil e me faltam as ambições que sobram nos políticos, que veem nisso razões para colocar dinheiro no bolso.
Eu sou apenas um homem que não tem o sonho de ser prefeito. Muito pelo contrário. Sou alguém que prefere apenas ficar em casa, com sua família. Minha história foi construída com a educação, assim virei advogado, assim fui aprovado em concurso, assim não precisei de apadrinhamentos, assim não precisei e continuo não precisando me vender.
Não sei mentir, sempre falei o que penso. Mas não consigo lidar bem com relações onde a corrupção e o descaso com os pobres se faz presente. Talvez isso pareça uma virtude, mas a verdade é que dentro desse sistema apodrecido, me falta a maleabilidade necessária pra construir consensos, porque sobra repulsa.
Estar, ainda que tão brevemente, na cabeça de uma chapa me mostrou como são apodrecidas as relações que envolvem os bastidores da política. Não sei se vocês sabem, mas grande parte da mídia pessoense funciona à custa de suborno, sem o qual questões importantes não são noticiadas. Não sei se vocês sabem, mas há políticos que compram votos – e as pessoas vendem mesmo. Não sei se vocês sabem, mas partidos são ambientes estranhos, onde as pessoas não são vistas como pessoas, mas como interesses, e vínculos afetivos não se constroem.
Não iria comprar votos, não iria sequer me dar ao trabalho de tentar explicar às pessoas que não é esse o caminho. Não irei envergonhar a minha mãe.
A questão que vem em seguida é: como se envolver com política com esses pressupostos?
Aceitei a missão que o PSOL me deu porque queria provar que a política não é somente pros ricos, mas falhei. O povo brasileiro me ensinou exatamente o contrário.
De fato, trago um total de zero processo criminal nas costas. De fato, o PSOL não está envolvido em escândalos de corrupção. De fato, trazemos bandeiras urgentes, como distribuição de renda e segurança alimentar. Mas isso é importante mesmo na conjuntura que se tem? Claro que não.
Não me preparei psicologicamente pra essa missão. Ela chegou pra mim na correria, com pouco tempo, com pouca estrutura, com poucos apoiadores, sem nenhum dinheiro. Sobrava o que ainda sobra: nojo do clientelismo violento e das oligarquias velhas, representadas pelo Cicero Lucena e pelo Ruy Carneiro. Nojo da mídia sensacionalista, representada pelo Nilvan. E pena do povo brasileiro, que – dentro dos contornos reais – não tem opção melhor do que uma esquerda vendida e egoísta.
O que fica desse processo é apenas um desgaste emocional, de quem já não estava bem, por conta de uma dolorosa militância pelos direitos humanos, cansativa e degradante, num cenário de intensificação da violência como é o governo Bolsonaro. E também o cansaço de alguém que, defendendo a extensão universitária, passou na UFPB por cansativas situações de assédio moral, conduzida por agentes públicos bastante corrompidos.
Confesso que me candidatar foi uma das piores experiências que já tive na vida. E o que posso dizer é que essa foi a breve história de um ex-candidato que não conseguiu representar esperança porque perdeu a esperança.
Pablo Honorato