Violência à brasileira
O Brasil é um dos países mais violentos do mundo. Aqui, em 2023, se matou mais do que na guerra da Ucrânia e no conflito entre Israel e Hamas. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), foram registradas 39,5 mil mortes violentas em todo o país no ano passado, com uma média de 108 vítimas por dia.
A cada ano os índices de assassinato estão caindo, lentamente. Houve uma redução de 4% com relação ao ano anterior. Mesmo assim, a quantidade de homicídios é alarmante. Por outro lado, o número de estupros e feminicídios tem crescido em todo o país. A cada ano, mais mulheres são violentadas e assassinadas, vítimas do machismo estrutural.
A violência que grassa no Brasil tem raízes históricas e influências atuais. Desde o período colonial, os massacres contra indígenas sempre foram praticados cotidianamente. Ao longo dos séculos, os negros escravizados eram chicoteados e tinham partes do corpo decepadas por qualquer falha no trabalho. Para não falar nos ferozes ataques e dizimação a ferro e fogo dos quilombos. Essa é a nossa triste e violenta herança cultural.
Nos dias atuais, além da atuação cada vez mais intensa do crime organizado através de poderosas facções, grupos milicianos e quadrilhas de narcotraficantes, vemos a propagação do culto às armas, semelhante ao que ocorre nos Estados Unidos. O incentivo ao armamento pelos “cidadãos de bem” tem criado um clima de faroeste. Muitas vezes, uma discussão acalorada por futebol, uma briga de trânsito ou desavença de casal termina em tragédia.
O desarmamento tem que ser geral. O monopólio da força deve ser exclusiva das forças de segurança do Estado. Ao mesmo tempo, todos os poderes (municipal, estadual e federal), independente do viés político-ideológico, devem realizar um profundo e permanente processo educacional para eliminar o machismo estrutural e a cultura da violência. Do contrário, continuaremos a ser o país recordista em crimes.