Tudo incerto e duvidoso
Alerta para os lulistas e os bolsonaristas mais otimistas: a campanha presidencial mal começou. Quem acreditar categoricamente que o seu candidato já está eleito pode ter uma surpresa desagradável no próximo 2 de outubro. Corre o risco de ver seu presidenciável amargar uma dura derrota por subestimar o poder político do adversário.
A última pesquisa eleitoral divulgada pelo Instituto Ipespe revela um quadro cristalizado de polarização entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL). Enquanto o petista tem 44%, o pelepista está com 30% das intenções de voto na pesquisa estimulada. Já na espontânea, a diferença entre os dois cai para 9%. Estando Lula com 36% e Bolsonaro 27%.
O principal ponto a destacar é a estagnação de Lula nesse patamar. Situação favorável, mas não decisivo para vencer no primeiro turno. Lembrando que, nas duas eleições em que Lula foi vitorioso (2002 e 2006), ele só ganhou no 2º turno. Enquanto isso, Bolsonaro avançou 4 pontos percentuais, demonstrando que, apesar de todos os desmandos realizados durante seu governo, ele mantêm um patamar de competividade.
A retirada de Moro da disputa eleitoral (talvez temporária) inegavelmente favoreceu a candidatura de Bolsonaro. Mas não foi decisiva. O crescimento de Bolsonaro se deve, principalmente, ao “pacote de bondades” no campo econômico que o governo federal vem apresentando estrategicamente.
A liberação do FGTS no valor de até R$ 1 mil, o programa de microcrédito com empréstimos para os mais pobres que não têm conta em banco ou têm dificuldades em conseguir acessos bancários, a antecipação do 13º para pensionistas e aposentados e a ampliação do empréstimo consignado são algumas medidas que visam beneficiar os mais carentes. E elas começaram a fazer efeito. A pesquisa do Ipespe indicou que Bolsonaro avançou 7% entre os eleitores mais pobres em comparação com a pesquisa anterior.
Além disso, Bolsonaro mudou sua estratégia com relação à pandemia de Covid-19, seu principal ponto de desgaste. Ele não fala mais contra máscara, vacina ou isolamento social, temas centrais em seus pronunciamentos nos últimos 2 anos. Com o abrandamento do ímpeto do vírus, as milhares de vidas ceifadas pela negligência do governo federal começam a cair no esquecimento.
Lula e Geraldo Alckmin (PSB) têm um grande desafio pela frente. Vencer um presidente que está recuperando parcela do seu apoio na sociedade e que conta com uma poderosa máquina estatal capilarizada por todo o país, com forte poder de compra de apoios nos estados. Sem falar na hegemonia nas redes sociais das milícias digitais bolsonaristas com grande prática na disseminação de fake news contra os concorrentes.
A próxima eleição presidencial será a mais tensa desde a redemocratização. O jogo bruto da política ainda não começou. Os presidenciáveis estão analisando os cenários. As estratégias estão sendo montadas. As respectivas tropas estão se agrupando. A disputa eleitoral é como na guerra, vence quem erra menos.