Ruralistas em ação
Tudo começou no período colonial. A tomada das terras dos povos originários, a escravização de indígenas e africanos e a destruição sistemática das florestas para o plantio da cana-de-açúcar deram origem aos senhores de engenho, a elite econômica dos primeiros séculos de existência do Brasil.
Desde os primórdios da história brasileira, o preconceito contra índios e negros, a destruição das florestas e a concentração fundiária têm sido a tônica dos ruralistas, grupo empresarial que, em pleno século XXI, continua com a mesma mentalidade senhorial forjada a ferro e fogo na exploração dos desvalidos da sociedade.
Riqueza gera poder. Por isso os ruralistas são detentores de extrema força econômica e política. A bancada do agronegócio no Congresso Nacional, denominada Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), conta com 300 deputados federais e 47 senadores. Isto é, são majoritários em ambas as casas legislativas.
Todos os parlamentares da FPA estão enquadrados no espectro político de direita e centro direita. Eles defendem pautas prejudiciais à reforma agrária, ao controle dos agrotóxicos, à desapropriação das terras para comunidades quilombolas e à ampliação de territórios indígenas.
O mais recente ataque dos ruralistas ocorreu no Senado. Em votação relâmpago, a Comissão de Assuntos Econômicos aprovou, por 16 a 10, a tese do marco temporal para as terras indígenas. No plenário, o placar foi de 43 a 21. Em maio, a Câmara Federal já havia aprovado a mesma matéria por ampla maioria. Caso entre em vigor, o marco temporal possibilitará a construção de hidrelétricas, exploração agrícola e garimpo em terras indígenas.
Em votação história em defesa dos povos indígenas e do meio ambiente, a tese do marco temporal foi rejeitada pelos ministros do STF por 9 votos contra 2, por considerá-la matéria inconstitucional. Cabe ao presidente Lula (PT) vetar a decisão espúria do Senado que favorece não o Brasil, mas única e exclusivamente os grandes proprietários. Mas, caso isso aconteça, os ruralistas ameaçam que irão reagir com a virulência de sempre.