Ricardo Coutinho: entre a Virtú e a Fortuna
Maquiavel, com sua percepção de como a política realmente é, nos dá lições até hoje. Na sua obra mais famosa, O Príncipe, escreveu que, quem desejar ter êxito na busca e manutenção do poder, teria que ter virtú e fortuna. Isto é, qualidades pessoais (a virtú) e sagacidade para aproveitar o momento histórico e político (a fortuna). RC está se esforçando para colocar em prática os ensinamentos do pensador florentino.
Agora é oficial. Chancelado por dois ex-presidentes, Dilma e Lula, e apoiado por Gleisi Hoffmann, presidenta do Partido dos Trabalhadores, Ricardo Coutinho retornou ao PT em grande estilo: com transmissão pelo canal do partido no Youtube e postulando a candidatura ao Senado. Mas seu caminho não será fácil.
O PT na Paraíba, desde a sua fundação, continua dividido. Enquanto Luís Couto e outros dirigentes da legenda apoiam RC, Frei Anastácio e Anísio Maia, ambos com mandatos parlamentares e poder de fogo na legenda, já estão em campanha pelo interior do estado, defendendo o nome do professor Charlinton Machado. A guerra interna promete ser acirrada.
Para se credenciar perante o PT e a sociedade, RC tem enaltecido suas virtudes de gestor diligente. As diversas obras realizadas quando foi prefeito e governador do estado são exibidas constantemente nas redes sociais.
Já sua fidelidade a Lula é a sua grande fortuna política. Não abandonou o ex-presidente nem mesmo quando ele amargava a prisão e era execrado pela grande imprensa, chegando a visitá-lo no cárcere. Agora, no momento em que todas as pesquisas indicam a vitória de Lula no próximo ano, RC o tem como principal aliado em seu postulado.
Mesmo com o aval de Lula para retornar ao PT, RC enfrentará dificuldades em se viabilizar eleitoralmente. A primeira será apaziguar o conflito interno do partido, deflagrado com seu retorno. A resistência ao seu estilo de fazer política tem sido encampada por seus opositores petistas.
A segunda é se livrar das acusações do Ministério Público Estadual que pairam sobre ele. Parte do péssimo desempenho eleitoral em 2020, quando ficou em sexto lugar na disputa pela prefeitura da capital, se deve aos processos em andamento.
Como na política a versão é mais importante do que os fatos, RC precisa recuperar a imagem de gestor dinâmico e íntegro que alavancou sua trajetória política em sucessivas vitórias, principalmente entre eleitores de classe média.
O terceiro empecilho consiste no governador João Azevêdo. Em consequência das críticas feitas por RC à sua gestão, João Azevêdo dispensou qualquer aproximação com ele. A construção de uma candidatura viável a governador com Luciano Cartaxo é obra titânica, que requer unidade interna, recursos financeiros e confiança entre os grupos que se digladiam dentro do PT.
Enquanto isso, João Azevedo, que conta com uma poderosa máquina pública, com milhares de servidores capilarizados por todo o estado, é extremamente competitivo no processo de reeleição. Só pra recordar, desde 1997, quando foi aprovada a possibilidade de reeleição, apenas um candidato a governador não foi reeleito, José Maranhão, em 2010. Ele perdeu para Ricardo Coutinho.
Com seu retorno ao Partido dos Trabalhadores, Ricardo Coutinho inicia uma nova etapa na sua trajetória política. Com um currículo de experiência administrativa de quem passou por turbulências nas gestões da capital e do estado, a expectativa é que consiga conciliar as disputas internas do PT, ao mesmo tempo em que formule uma crítica contundente e convincente à sua criatura: o governador João Azevêdo.