Presidencialismo de Colisão

Em artigo publicado em 1988, o sociólogo Sérgio Abranches cunhou o termo Presidencialismo de Coalizão para caracterizar o tipo de governança que havia no Brasil. De acordo com ele, o presidente teria que, inevitavelmente, dividir o poder com o Congresso Nacional para governar e manter-se no cargo.

Depois que tomou posse, Bolsonaro está revolucionando a política brasileira. Com suas bizarrices cotidianas, estabeleceu um novo modelo de governar que vai render muitas teses de ciência política: o Presidencialismo de Colisão.

Desde que subiu a rampa do Palácio do Planalto, em 1º de janeiro de 2019, não há semana em que o presidente não crie uma crise institucional. Discursos virulentos contra a imprensa, defesa da ditadura militar, arengas com generais, conflitos com aliados, briga com o PSL, insultos a jornalistas, vitupérios contra ambientalistas, atritos com ministros do STF, além da inoperância diante da maior pandemia que o Brasil já enfrentou.

Sua ação obedece a uma estratégia política que deu certo em 2018. Acreditando ser infalível, Bolsonaro continua com sua tática beligerante. Partindo da lógica guerreira de que atacar é a melhor defesa, ele dá continuidade às corriqueiras agressões. Dessa forma, mantém sua tropa em pé de guerra, pronta para o novo combate que ocorrerá em 2022.

Mas a conjuntura é outra. Em meio a milhares de cadáveres, vitimados pelo Covid-19, mortos pela irresponsabilidade governamental, e uma crise econômica que se avoluma, Bolsonaro tem visto parte da sua tropa debandar. A perspectiva de manter um estado de guerra permanente com um exército reduzido pode levar a uma fragorosa derrota no pleito presidencial no próximo ano.