O que está ruim pode sempre piorar
É sempre bom lembrar características essenciais do sistema capitalista pois isto nos permite derrubar algumas pseudoverdades que costumam encher os jornais e TVs, como a conversa do “desenvolvimento sustentável”, meta absurda e impossível de ser atingida no capitalismo. Na busca do maior lucro possível o capital procura sempre reproduzir suas relações de produção, ou seja, os trabalhadores assalariados têm que se reproduzir para que o sistema exista, mas não podem ganhar salários tão elevados que os permita ultrapassar sua condição de assalariados eternos. Esta conversa de “empreendedorismo” é completamente furada, é vender ilusões.
Para falar de conjuntura esta semana, recomendamos a leitura da nossa Análise de 15 dias atrás. Tudo que lá está escrito é completamente atual, com alguns agravantes. O desespero da quadrilha Bolsonaro tornou-se ainda maior com a divulgação do relatório da CPI do Senado sobre a covid-19. São escândalos e horrores o que ali está revelado. O pior é que, se os processos forem abertos e julgados, o Bolsonaro poderá pegar no mínimo 78 anos de prisão. A família está em pânico e o chefe tentará de tudo para não perder o mandato. Mas, a saída via golpe se tornou pouco provável, pois parece que as Forças Armadas criaram vergonha na cara por apoiar um aspirante a capitão já expulso do exército. Só mesmo as crias da ditadura militar, como o general Heleno, poderiam concordar com isto e acobertar toda a corrupção que envolve o governo. Resta, portanto, a reeleição e para isto é preciso recuperar a economia para ganhar os eleitores.
O relatório da CPI revelou, porém, o escândalo. São 70 indiciados entre os quais, além do próprio presidente, estão seus 3 filhos, 4 ministros, 2 ex-ministros, 6 deputados, 3 assessores do presidente, 1 pastor e 4 empresários. Entre os deputados estão os da tropa de choque: Ricardo Barros, porta-voz do governo na câmara, Eduardo Bolsonaro, Bia Kicis, Carla Zambelli, Osmar Terra, Carlos Jody. Os empresários apontados são Luciano Hang, Carlos Wizard, Mauro Tolentino e Otávio Fakhoury.
Esperamos agora os desdobramentos e as pressões sobre as autoridades que têm a obrigação de dar continuidade ao processo.
Todo este tumulto provoca fortes instabilidades nas decisões dos agentes econômicos. A imagem do Brasil no exterior está mais suja que pau de galinheiro. Não satisfeito, o presidente abriu a boca para vomitar mais absurdos tentando associar a vacina contra a covid com a AIDS. Mais ruido! O desespero de Bolsonaro para ganhar as eleições levou aos desatinos mais recentes. As propostas de aumento das despesas furando o teto dos gastos, com o Auxílio Brasil de R$400 (com 100 fora do teto), mais o auxílio diesel, mais orçamento secreto para comprar deputados. O próprio Guedes passou a defender o abandono dos limites do teto de gastos, já abalado com o calote dos precatórios pregado na PEC em tramitação.
Claro que o “mercado” reagiu de imediato. O dólar disparou subindo 1,6% para R$5,644 e o Ibovespa caiu 3,28% em um só dia. A própria “equipe dos pesadelos” desmoronou com a demissão de 4 secretários: Bruno Funchal (Tesouro e Orçamento), Jeferson Bittencourt (Tesouro), Gildenora Dantas (adjunta do Tesouro e Orçamento) e Rafael Araújo (adjunto do Tesouro). Mas o rombo no orçamento ainda não está coberto. Foi preciso ainda alterar a forma do cálculo do teto de gastos: em vez de julho a julho passou a ser usado o indicador de dezembro a dezembro por refletir uma taxa de inflação maior.
Descrédito total do Guedes e do governo junto ao mercado. Guedes está pendurado na brocha. O posto Ipiranga só não se demite porque está ganhando muito dinheiro. É a raposa tomando conta do galinheiro. Seus milhões de dólares de sua off Shore crescem a cada dia graças a suas ministeriais decisões para não falar das comissões e propinas que eventualmente possam cair no cofre.
Enquanto isso a economia afunda e a inflação dispara. Como diria o jornalista “Em se tratando do atual governo, o que está ruim pode sempre piorar”. E vai!