O outono do capitão
No livro clássico O Outono do Patriarca, o escritor colombiano Gabriel García Márquez retrata um país fictício na América Latina dominado por um ditador decrépito e sanguinário que não quer largar o poder. Rodeado por assessores corruptos e incompetentes, o general perambula pelo palácio presidencial sem perceber que seus dias estão contados.
No Brasil de hoje, a realidade imita a ficção. O capitão Bolsonaro, temporariamente presidente, está cercado de corruptos e vaga pelos corredores do Palácio do Planalto em busca da fórmula política que assegure a sua permanência no poder.
O escândalo no Ministério da Saúde que derrubou o despreparado general Pazuello, a corrupção no Ministério da Educação, dominado por pastores ávidos por ouro, e as taras de Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, são os aspectos mais evidentes de que há algo de muitíssimo podre nos domínios da família Bolsonaro, viciada de longa data no esquema das “rachadinhas”.
Bolsonaro ganhou a eleição presidencial embalado no discurso da anticorrupção. Sua retórica salvacionista foi herdada de Jânio Quadros e Collor de Mello, dois políticos de carreiras meteóricas que chegaram à presidência seguindo a mesma cartilha. O primeiro renunciou em apenas 7 meses de governo sonhando com um golpe militar. O segundo clamou para que a população fosse às ruas vestida de verde-amarelo para apoiá-lo. Foi um tiro no pé. Terminou sofrendo o impeachment.
Bolsonaro é uma mistura nefasta de Jânio Quadros com Collor de Mello. Seus arroubos autoritários vêm respaldados por propostas populistas. Ora apela para que as Forças Armadas apoiem seu golpe contra a democracia. Ora seduz sua militância, minoritária mas aguerrida, para ocupar as ruas e garantir, para ele seus filhos, uma sobrevidapolítica longe dos processos judiciais.
Bolsonaro está aturdido com a provável derrota eleitoral. Por isso mesmo está mais perigoso. Após a aprovação do pacote de bondade no Congresso Nacional, ele terá 41 bilhões de reais para alavancar sua candidatura. Seu maior desafio é conseguir passar a imagem de defensor dos mais pobres, os mesmos que, em todas as pesquisas eleitorais, dão maioria de votos a Lula, seu principal oponente.
Caso não consiga crescer no segmento eleitoral mais vulnerável, só restará ao combalido capitão a saída golpista. Vamos ver se a sociedade civil brasileira e suas instituições irão aceitar passivamente a permanência de um Bolsonaro autoritário e sem votos na presidência da república.