O MBL e o neofascismo
O Movimento Brasil Livre (MBL) surgiu na onda neoconservadora que assolou o Ocidente na última década. Fundado em São Paulo em 2014, no início dos protestos contra a presidenta Dilma Rousseff (PT), o MBL agregou jovens de direita que se apresentavam à sociedade em convulsão como autênticos portadores de ideais de liberdade, democracia e transparência na vida pública.
A partir de 2016, o MBL somou forças com as bancadas ruralista e evangélica no Congresso Nacional por uma agenda de Estado mínimo, reforma trabalhista, ajuste fiscal e redução da maioridade penal. Temas contrários aos defendidos pelos partidos de esquerda e prejudiciais à maioria da população brasileira.
Seus principais líderes, Kim Kataguiri, Fernando Holiday e Artur do Val (Mamãe Falei), entre outros, vociferavam contra o governo petista, cantavam loas a operação Lava Jato e passaram a ter Sérgio Moro e Jair Bolsonaro como seus maiores ícones. Através das intensas campanhas difamatórias nas redes sociais, o MBL contribuiu decisivamente para o impeachment de Dilma.
Ao apoiar Bolsonaro em 2018, alguns integrantes do MBL foram eleitos para cargos legislativos, como Kataguiri (deputado federal) e Mamãe Falei (deputado estadual), ambos por São Paulo. Em 2020, membros do MBL assumiram cadeiras de vereadores e até prefeituras de pequeno porte. No final de 2021, o MBL rompeu com Bolsonaro (PL) e afastou-se do bolsonarismo mais radical, mas não abandonou suas raízes de extrema direita.
Para tentar manter-se como um movimento de renovação no cenário político nacional, o MBL passou a apoiar Sérgio Moro (Podemos) para presidente, na busca de construir uma terceira via presidencial viável que possibilitasse sua ampliação de poder.
Nos últimos dias, os protagonistas do MBL têm revelado sua verdadeira face. Durante um debate, Kataguiri defendeu a legalização do partido nazista na Alemanha, sob o pretexto de assegurar a ampla liberdade de expressão. Como se afirmar que existe raça superior e o direito de extermínio de pessoas, como os nazistas praticaram e os neonazistas defendem, fossem um direito e não uma aberração social e um crime.
Nos últimos dias, quem ganhou destaque internacional foi o deputado Mamãe Falei. Há muito tempo ele vem revelando seu lado mais sórdido. Artur do Val já invadiu o departamento de medicina da USP fantasiado de vagina para fazer pregação conservadora e chamou o padre Julio Lancellotte de “cafetão da miséria”, em virtude do clérigo ajudar os moradores de rua na cidade de São Paulo.
Mas foi na sua ida à Polônia, para levar “ajuda humanitária” aos refugiados ucranianos, que Artur do Val se superou em canalhice. Seus áudios machistas, preconceituosos e escatológicos, amplamente difundidos, traduzem sua personalidade monstruosa. Nem diante da miséria humana causada pela guerra ele conteve sua tara sociopata e sua misoginia patológica.
O MBL, liderado por tais representantes da “nova direita”, é a tradução perfeita do neofascismo que avança sem freios na sociedade contemporânea. Ele está calcado na cultura da violência, no desrespeito aos direitos humanos e no culto à força bruta como solução para os complexos problemas sociais.