O Liberalismo de Bolsonaro, pero no mucho
– Por Anísio Carvalho
A improvável vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018 se alicerçou em algumas pautas que seduziram a maioria dos brasileiros naquela oportunidade, muitas delas ditas de direita, ou liberais, entre as quais a implantação de um modelo econômico inspirado na considerada mais capitalista das nações: os Estados Unidos.
Malgrado a sua pouca capacidade de entender a extensão do que significa Liberalismo, assim como de muitas das outras questões que insiste em abordar com seus arroubos verborrágicos nos discursos de pouco conteúdo intelectual, o Liberal, pero no mucho, escolheu para seu primeiro escalão o festejado economista Paulo Guedes, que alimentou os corações dos “pós-liberais/direitistas/reacionários” em torno de uma guinada na economia.
Nesse sentido, acreditou-se que o Governo Bolsonaro surgiria como a panaceia, reduzindo o peso do Estado brasileiro das costas do contribuinte brasileiro com a redução de tributos para financiamento dos gastos públicos, hoje em torno de 32% do PIB. Doce ilusão.
Não obstante o discurso, desses dois anos, tenha vindo recheado de “boas intenções” nesse sentido, o Governo de Jair se mostrou incapaz de promover qualquer iniciativa no sentido de tornar nossa economia mais competitiva no mercado mundial, capaz de incrementar seu protagonismo nas trocas internacionais.
Para além dos discursos e boas intenções, não se viu qualquer iniciativa deste Governo em torno de reduzir o tamanho do Estado, sinalizando para os agentes econômicos de que haveria algo de diferente no panorama atual.
Mas, ao contrário, para manter seu nível de “governabilidade”, reproduziu o mesmo modelo sistêmico com o qual todos os governos anteriores dos últimos anos administraram o país: o toma-lá-dá-cá. Para alimentar esse “jogo”, foi preciso manter o tamanho do Estado intacto, abrigando e alimentando os “parceiros” do Congresso Nacional.
Este governo não teve, nem mesmo, a capacidade de implementar uma pauta razoável de venda de estatais, a chamada desestatização, demonstrando para o mercado que teria fôlego suficiente para cumprir suas promessas de campanha. Ao invés disso, passou dois anos disparando bravatas reacionárias, de populismo tosco, com fortes doses de obscuridade intelectual.
À margem disso, o Brasil perde, cada vez mais, o protagonismo no ranking das nações mais desenvolvidas e deve sair da pandemia fora do grupo da elite das 10 maiores economias do mundo – já foi a oitava.
Não há dúvida de que teremos mais quatro anos perdidos, que se somam a mais não sei quantos de atraso e de inércia, o que nos levará, inexoravelmente, ao aumento das desigualdades e da pobreza, a demandar mais recursos do Estado para a inversões, que foram fundamentais para que nossa economia não entrasse em colapso.
Não há dúvida de que nada mudou. Infelizmente, as esperanças daqueles que acreditaram na pauta bolsonarista vão esbarrar na realidade de um governo sem criatividade para nada, a não ser para alimentar o ódio.