O impasse continua

A economia mundial continua aos grandes solavancos. A reestruturação da globalização é muito complexa, pois envolve os interesses de países que procuram se estruturar em blocos opostos. Esta oposição vem se consolidando com mais um grande passo que foi a reunião dos BRICS na África do Sul e a decisão de ampliação com a entrada de mais seis países:  Egito, Arábia Saudita, Etiópia, Argentina, Emirados Árabes Unidos e Irã. Eles deverão juntar-se aos 5 existentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Consolida-se, assim, a tentativa de constituição de um outro polo de atração, que já conta com a intenção de adesão de quase 40 países. A formação deste novo polo tem provocado muita preocupação nos países ditos ocidentais, liderados pelos EUA, que agora buscam desacreditar e sabotar todas as iniciativas neste sentido.

Embora sejam conhecidas as inúmeras contradições que existem entre os vários países participantes do bloco, algumas particularidades devem ser consideradas. Juntos, Rússia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos controlam o mercado mundial do petróleo. Juntos, os países possuem mais da metade da população e 40% do PIB mundiais.     A China, além de possuir um complexo e moderno parque industrial, é um dos polos mais avançados de tecnologia do globo, e a Rússia possui o maior arsenal de armas atômicas do mundo. Se os países do novo bloco conseguirem uma razoável integração de suas economias, o mercado mundial capitalista sofrerá um grande choque. O chamado “bloco ocidental” constituído principalmente pelos EUA e União Europeia (UE), com o Canadá, Japão e Austrália pendurados, terá algumas dificuldades com os suprimentos de energia, matérias primas, componentes, eletrônicos etc. além do estreitamento do mercado para escoamento de sua produção.

Neste momento, a China já pressiona o mercado de carros elétricos, montando grandes fábricas de baterias, em condições de abastecer toda a demanda internacional. Isto ocorre no momento em que a atividade econômica global está em desaceleração. O setor de serviços encontra dificuldades diante da fraca demanda, desacelerando na França, Alemanha e Reino Unido. A zona do euro corre o risco de entrar em recessão. O Hamburg Commercial Bank (HCOB) e a S&P Global estimam que o PIB desta zona deverá sofrer uma contração de 0,1%, no trimestre atual. Os indicadores apontam igualmente para uma desaceleração das economias da China e da Índia. Só para a economia japonesa é que os dados são positivos. 

Os prognósticos para o crescimento da Alemanha, locomotiva da União Europeia, são muito pessimistas. O Instituto Kiel para a Economia Mundial cortou sua previsão, estimando uma contração de 0,3%, no trimestre, e 0,5% no ano de 2023. No mês, a produção industrial caiu 0,8, e, no setor automotivo, 9%. Nos últimos três trimestres a economia estagnou ou encolheu. As causas apontadas são os preços da energia, a elevação dos juros e a desaceleração do comércio com a China, seu segundo maior importador. Por trás dessas causas está a guerra da Ucrânia, que os incompetentes governantes alemães, subservientes aos interesses americanos, estão engolindo. 

O quadro internacional continua então sombrio. Do exterior, não podemos ter grandes esperanças. Internamente a situação é também muito preocupante. Continuamos a juntar os cacos que foram deixados pelo desgoverno passado. As investigações sobre os desmandos e conspirações para o golpe continuam e os primeiros resultados dos julgamentos já começam a aparecer. Infelizmente, apesar de necessárias, estas ações desviam a atenção dos reais problemas da economia e nos obrigam a ouvir impropérios vindos das duas bocas bolsomínias infelizmente sacramentadas por togas sagradas. 

Apesar de tudo a economia começa a reagir. A questão é que esta reação não se deve à investimentos, mas a estímulos fiscais e distribuição de renda. O recuo dos investimentos pode ser medido pela contração do setor produtor de máquinas (meios de produção). A indústria de máquinas e equipamentos, diante da queda de 14% nas vendas, espera ter, no fim do ano, um decrescimento de 5% a 8% nas vendas para o mercado interno, embora tenha havido um crescimento nas exportações. Segundo a Abimaq, entidade que congrega todos os fabricantes do setor, a importação de máquinas e equipamentos já representa 40% do consumo destes bens e, só da China, estas importações chegam a 39% do total. É isto o resultado da “desindustrialização”. A Abimaq aponta como causas para este fenômeno os juros elevados, a carga tributária, o custo dos insumos (30% mais caros que em outros países) e o custo Brasil. 

O setor produtor de “meios de produção” é o grande responsável pela reversão do ciclo econômico e pela retomada do crescimento da economia, ou seja, a passagem à fase de reanimação. Diante deste quadro, quando não se observa o aumento dos investimentos e, mesmo quando este se efetua, as encomendas são dirigidas para o exterior. Isto significa que nossa recuperação auxilia os outros países do mundo na reversão dos seus ciclos. É por esta razão que não podemos ter esperanças otimistas em uma grande retomada na economia do país. 

No momento, as estatísticas mostram que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu, no segundo trimestre, e estima-se que, no ano, ficará acima dos 3%,  o que será uma grande vitória, diante dos prognósticos anteriores. Apesar de uma difícil gestão, acossada por todos os lados, com um congresso hostil, dirigido por dois honoráveis bandidos, algum resultado vai sendo conseguido. O emprego vai aumentando, embora lentamente, a distribuição de renda vai tendo resultados e alguns programas vão apoiando o aumento do consumo. Não há como negar o papel do agro e das exportações de commodities. Mas, nada nos dá garantias de uma arrancada da economia. Vamos continuar torcendo para que a troca de ministros aplaque a ira do centrão e dê maioria parlamentar, para que o governo consiga aprovar seus projetos.

Talvez possa haver alguma melhora, mas nada de grandes euforias.

Antes de terminar, acaba de ser publicado o discurso do presidente Lula na ONU. É na verdade o discurso de um estadista. Merece ser lido com atenção.

 

Imagem: Mapa mostra a localização dos seis países convidados para se juntar aos BRICS — Foto: Arte g1