O homem põe, a economia dispõe

Na nossa concepção é a economia a força determinante do movimento da sociedade. É dela que parte a energia que move todas as outras esferas que compõem o todo social. Agora assistimos a um fenômeno que aparentemente contradiz nossa base teórica e do qual se aproveitam as autoridades do governo. Na campanha política, vale tudo e com um dirigente sem nenhuma moral, dignidade ou escrúpulo como temos hoje, a situação só não tende para o cômico porque é antes de tudo trágica. O país está sendo enterrado, por incompetência e fanatismo ideológico, em um buraco, e precisará de muitos anos de sensatez e ciência para recuperar os estragos que estão sendo irresponsavelmente causados.

O governo, desesperado para reverter a rejeição que as pesquisas de opinião mostram, não mede esforços para acelerar o desastre, usando para isto todo tipo de mentiras e falsificações, apropriando-se mesmo de obras e realizações de outros para as quais em nada contribuiu. Ao contrário, com sua ação incompetente envidou todos os esforços para impedir e mesmo destruir o que estava em execução. Veja-se o caso das ações contra a covid-19 e a aprovação do auxílio emergencial de R$600 contra o qual lutou o “sinistro” da economia Paulo Guedes e só foi aprovado após renhida batalha da oposição no Congresso.

No desespero, diante da derrota eleitoral iminente, Bolsonaro agora tenta todo tipo de ações para remediar os males que ajudou a deflagrar na economia como a fome, a inflação, o desemprego, os baixos salários, a queda nos investimentos, o déficit fiscal, a crise etc. Temos assim um bom exemplo da relação estado-economia que mostra a negação de toda a pregação neoliberal feita pelo “sinistro” Guedes e sua equipe.

No desespero, vale tudo e o liberalismo é enterrado sem nenhuma explicação ou vergonha. Assistimos o uso do Estado em função dos interesses políticos mais escusos: ganhar uma eleição por um grupo que pretende eternizar-se no poder e cujos interesses nada tem a ver com os do povo e se apoia em uma pregação anticientífica, fanática e clerical e uma ação incompetente, desonesta e corrupta. Compra-se tudo sem nenhum pudor desde que o grupo dominante, representado por oficiais dos altos escalões das forças armadas, políticos corruptos de partidos de aluguel e a família do presidente e seus amigos possam continuar no poder. Cobram um preço elevado pela defesa dos interesses dos setores mais reacionários e conservadores da burguesia rural e urbana do país. Nesta ação desesperada, os recursos derramados, o orçamento secreto, o Auxílio Emergencial, os subsídios a caminhoneiros e taxistas, o vale gás etc. além de outras medidas como a antecipação do 13º salário a pensionistas e aposentados, a liberação do FGTS, a flexibilização das medidas sanitárias que permitiram a retomada das atividades presenciais, trazem consequências para a economia. Certamente, este pacote de bondades tem um impacto na melhora da situação das pessoas principalmente os mais pobres. Foi isto que emparedou a oposição e obrigou-a a aprovar as propostas do governo. Quem poderia se opor à concessão de subsídios e outros mecanismos de transferência de renda que podem mitigar a situação dos menos favorecidos? O que se está fazendo é despejar nas mãos de pessoas com níveis de consumo extremamente deprimidos milhões ou mesmo bilhões de reais. Este dinheiro deve voltar rapidamente para a economia fazendo crescer a demanda que estimula as atividades comerciais, os serviços e em seguida a indústria. As consequências são as esperadas. Apesar de medíocres, são visíveis nas estatísticas. A queda do desemprego, é um exemplo, mesmo sendo de baixos salários os postos de trabalho criados e a informalidade crescente.

Apesar do estímulo, a atividade industrial ainda mostra, no primeiro semestre, um recuo de -2,2%, o que deverá ser revertido nos próximos meses. A indústria de bens de consumo duráveis, por exemplo, recuou -11,7%. O setor de serviços, porém, deu uma grande contribuição para a melhora do quadro e foi responsável pelo crescimento de 0,57% no segundo trimestre, apontado pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC Br). Em 12 meses, este índice mostrou um crescimento de 2,18%. O monitor do PIB do Ibre FGV apontou um crescimento de 1,1%, no segundo trimestre.

No entanto, a conta da farra vai estourar em 2023. A irresponsabilidade cobrará seu preço. Não se mexe impunemente com a economia. A política age, a economia reage. Segundo a FGV Ibre o preço das bondades significará um rombo de R$439 bilhões, ou seja, 4,3% do PIB do país. Isto para pagar o furo do teto, a perda de arrecadação, os custos financeiros e outros riscos. Segundo o Boletim Macro, só o Auxílio Emergencial de R$600, o reajuste do funcionalismo e a revisão de despesas discricionárias custarão mais de R$ 120 bilhões ou seja 1,2% do PIB. Para piorar, a FGV afirma que o alto nível de incerteza, provocado pelo processo eleitoral e as irresponsabilidades da política econômica do governo, desestimulam os investimentos e dificultam a recuperação. Além disso a economia mundial também se encontra em desaceleração e caso não seja encontrada uma solução para a situação de guerra na Europa entrará em profunda recessão, o que já é visível nos grandes países como EUA, Alemanha, França e Inglaterra

A tempestade se aproxima. O vencedor das eleições receberá como prêmio uma verdadeira herança maldita.