O bolsonarismo está morto?
O ex-primeiro-ministro inglês Winston Churchill afirmou que a política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Com uma diferença: na guerra você só morre uma vez. Já na política você pode morrer várias vezes. E também ressuscitar outras tantas.
A derrota de Bolsonaro nas urnas e o fracasso do movimento golpista não significam que o bolsonarismo está morto. Ele continua latente e inspirando milhões de brasileiros. Isto se deve ao fato de que o bolsonarismo tem profundas raízes na cultura política brasileira. Eu diria que o bolsonarismo é anterior ao próprio Bolsonaro.
Explico-me melhor. O bolsonarismo alimenta-se do autoritarismo, do racismo, do cristianismo nacionalista de direita, da xenofobia, da homofobia, do machismo, da misoginia, do culto à violência, da apologia às armas, do anti-intelectualismo, do anticientificismo e da intolerância religiosa. Esses elementos são partes constitutivas do pensamento da extrema-direita no Brasil e têm longa história.
Esse conjunto de práticas sociais ganhou força nas décadas de 1920 e 1930 com a Ação Integralista Brasileira (AIB), versão nacional da onda fascista que varria a Europa e a América Latina. Com a ditadura militar implantada no país a partir de 1964, grupos de extrema-direita encontraram no governo militar guarida para exercerem os crimes de tortura e assassinatos em nome do combate ao comunismo.
O bolsonarismo, mesmo em refluxo, está vivíssimo. Continua atuando na surdina contra a democracia. Praticando a discriminação social, racial e de gênero no cotidiano. Conspirando contra as instituições do Estado democrático de direito. Aguardando a ressureição do seu messias para sair das sombras e voltar ao poder.