Lula: entre o sonho e a realidade
Brasil de 2002. Estava de saída o governo FHC com baixa aceitação popular, marcado por uma agenda de privatizações e implantação do projeto neoliberal, forjado pelo governo de Washington. José Serra (PSDB), candidato presidencial sem carisma e carregando o peso de ser governista, perdeu para um Lula (PT) turbinado pela onda nacionalista que varria a América Latina.
O resultado das urnas no segundo turno deu uma vitória acachapante para o candidato petista. Lula obteve 61,27% dos votos e Serra 38,73%. Além disso, o Partidos dos Trabalhadores fez a maior bancada na Câmara Federal: 58 deputados. O PSDB, uma vez derrotado, realizou uma oposição moderada, dentro dos princípios civilizatórios e democráticos.
Passados duas décadas, o Brasil de 2022 era outro. Lula, chamuscado por escândalos de corrupção que assolaram os governos petistas, enfrentou Bolsonaro, um populista de extrema direita que mobilizou intensamente os setores conservadores para manter-se no poder.
A vitória de Lula foi apertadíssima. O petista obteve 50,90% dos votos. Bolsonaro 49,10%. Para complicar a vida do novo presidente, o Partido Liberal conseguiu 99 cadeiras na Câmara de Deputados, muitos deles de extrema direita ligados umbilicalmente ao ex-presidente Bolsonaro. O 8 de janeiro foi o recado concreto do que os extremistas estão dispostos a fazer.
Lula tem lutado para estabelecer uma agenda positiva. Retomou programas sociais de ampla aceitação popular. Aumentou o Bolsa-família, anunciou o retorno do programa Mais Médicos e reformulou a Lei Rouanet, além do Minha Casa Minha Vida. Medidas importantes. Mas isso é mais do mesmo.
O cerne do maior desafio de Lula está na economia. A taxa de juros, a reforma tributária e a reforma fiscal estão na pauta do dia. Sem o deslanche dessas duas reformas e baixa na taxa de juros o Brasil continuará patinando, sem criar empregos e diminuir a miséria.
Veremos se o governo Lula sairá do sonho e implantará uma nova realidade em um país cindido profundamente.