Ligações perigosas
Numa ensolarada tarde de sábado, precisamente no dia 29 de outubro de 2022, uma mulher branca, armada com uma pistola automática, persegue um homem negro, desarmado, num bairro de elite, na principal cidade do país. Desesperado com a iminente morte, o homem atira-se ao chão e pede para não morrer. Por pouco ele não foi assassinado.
A cena descrita acima poderia ser de um filme policial B, daqueles bem racistas. Mas o fato foi real. A deputada Carla Zambelli (PL) quase matou o jornalista Luan Araújo. Provavelmente, se fosse numa noite escura, sem dezenas de testemunhas, o crime teria sido concretizado. O pecado de Araújo: ter criticado o presidente Bolsonaro (PL) e declarado apoio ao candidato Lula (PT).
Carla Zambelli foi eleita, pela primeira vez, na onda bolsonarista que tomou conta do país em 2018. Pautada em fake news, discursos de ódio e apoio ao armamentismo, ela chegou no parlamento brasileiro imbuída da ideologia da extrema direita que embasou o governo de Jair Bolsonaro.
Nesta semana, Carla Zambelli voltou ao noticiário. Ela e o hacker Walter Delgatti foram alvo de uma operação da Polícia Federal. Os dois estavam mancomunados em ações contra a democracia. O hacker foi contratado pela deputada para, entre outros crimes, acessar o celular e o e-mail do ministro Alexandre de Moraes e tentar fraudar o sistema eleitoral brasileiro. Além disso, Zambelli intermediou um encontro entre Delgatti e o então presidente Bolsonaro. Tudo indica que as ações criminosas perpetradas foram pagas com dinheiro público.
Carla Zambelli tornou-se radioativa. Ela está isolada politicamente. Nem o ex-presidente, e nem os seus asseclas, querem contato com a fiel escudeira do bolsonarismo. Ela é acusada de ser a responsável pela derrota de Bolsonaro no segundo turno.
Suas ações criminosas continuam sendo apuradas pela PF. O risco de perder o mandato e amargar uma temporada na cadeia parece ser o final merecido para quem, usando o cargo de deputada federal, agiu contra a democracia.