França: entre o conservadorismo e a extrema-direita

A França é o berço das revoluções liberais. Desde 1789, quando parte da população parisiense se insurgiu contra o poder absolutista do rei, o predomínio da nobreza e a intolerância da Igreja católica, uma onda transformadora, embalada pelo lema “Liberté, Egalité, Fraternité”, varreu parte da Europa. Desde lá, o ideário libertário passou a ocupar corações e mentes daqueles que sonham com um mundo melhor.

Mas a França também é guarida para a reação conservadora. Nos últimos 200 anos, grupos de direita e esquerda vêm se digladiando para ocupar o poder. Em 1815, com a derrocada de Bonaparte, a monarquia foi restaurada. Em 1848, os liberais e socialistas franceses derrubaram o regime monárquico e instauram a república.

Logo em seguida, Luís Napoleão deu um golpe de estado e permaneceu no poder até 1871. Naquele ano, os trabalhadores assumiram o controle da capital e instauraram o primeiro governo socialista com a Comuna de Paris. Depois de quase três meses de resistência, foram massacrados pelas forças reacionárias. O sonho dos trabalhadores no poder foi aniquilado.

Após sucessivas derrotas no século passado, a extrema-direita se renovou e vem ocupando cada vez mais espaço no cenário político francês e ameaçando o conservadorismo. No século XXI, a extrema-direita está mais forte. Dessa vez, liderada por um mulher extremista: Marie Le Pen. Advogada e política profissional, Marie Le Pen é herdeira política do seu pai, o lendário ultradireitista Jean-Marie Le Pen, oficial da Legião Estrangeira e fundador do partido de extrema-direita Frente Nacional.

Marie Le Pen tem superado politicamente seu pai, desde que assumiu a presidência da Frente Nacional e o expulsou do partido. Com uma retórica xenófoba contra os imigrantes, principalmente os mulçumanos, defendendo o retorno da pena de morte, responsabilizando a União Europeia pelos problemas na França e achincalhando os partidos tradicionais, Le Pen tem angariado crescente prestígio entre a classe média e trabalhadores, setores mais atingidos pela concentração de renda que assola a França e que encaram os imigrantes como concorrentes e inimigos.

Na eleição presidencial de 2012, Le Pen ficou em terceiro lugar, quando obteve 18% dos votos. Em 2017, ela concorreu novamente ao cargo e foi a segunda mais votada, com 34% dos votos, perdendo para o conservador Emmanuel Macron, que alcançou 66% dos votos. Após a derrota, Le Pen mudou o nome do partido para Reagrupamento Nacional (Rassemblement National), na tentativa de diminuir a rejeição ao passado extremista. Mas as ideias de Le Pen permaneceram as mesmas.

Mais uma vez, Le Pen está na disputa. No primeiro turno da eleição presidencial, ocorrido no dia 10 de abril, Macron obteve 27,8% dos votos e Le Pen ficou com 23,2%. O segundo turno ocorrerá em 24 de abril. A primeira pesquisa eleitoral publicada após o primeiro turno, realizada pelo Ipsos & Sopra Steria, indica que Macron tem 55% da intenção de votos contra 45% de Le Pen. É uma diferença significativa, mas não garante ainda a vitória folgada.

Só no dia 24 de abril é que o mundo irá saber se a maioria dos franceses prefere o conservadorismo insosso de Emmanuel Macron ou irá optar pelo obscurantismo político representado para Marie Le Pen.