Esclarecimento aos leitores
Desde que comecei minha colaboração no “Política por Elas” sinto a necessidade de alguns esclarecimentos aos leitores.
Aceitei o convite de Rejane Negreiros para participar deste projeto contribuindo dentro de minhas competências: análise de conjuntura.
Conheci Rejane ainda nos tempos da BAND MANAIRA onde participei, em várias ocasiões, no programa “Primeiro Plano”, entrevistado por ela, sobre questões econômicas e políticas.
Como minhas opiniões destoam do senso comum, alertei Rejane sobre o risco que ela correria com o descontentamento dos patrões, diante das minhas afirmações. Ela topou o desafio e fizemos um acordo: o que fosse perguntado eu responderia, à minha maneira, e ela enfrentaria as consequências.
Após as primeiras entrevistas, os convites foram se tornando cada vez mais raros e o tempo do programa foi diminuindo. Rejane era grande demais para a BAND MANAIRA e seus limitados donos. Aliás, isto é uma característica dos grupos que dominam a mídia na Paraíba, os canais de TV, de rádio e jornais. São reacionários e conservadores, mesmo os oficiais. Não há espaço para espíritos rebeldes que fogem às regras do status quo. Com os atuais donos da mídia,Ricardo Boechat e Reinaldo Azevedo, por exemplo,certamente ficariam desempregados na Paraíba caso para cá viessem.
Deixei de receber convites da BAND e finalmente tomei conhecimento da saída da Rejane.
Quando recebi aproposta para colaborar no “Política por Elas” tive uma grande satisfação por saber que Rejane estava atuante, rebelde e livre como sempre foi. Perguntei sobre as restrições que teria e, sem surpresa, recebi a confirmação dainteira liberdade para dizer o que quisesse. Poderia ainda deslocar-me um pouco da economia para a política, o que muito me agradou.
Assim, aqui estou cumprindo o compromisso de um artigo quinzenal, analisando não só a conjunturaeconômica,mas também a política econômica.
Senti, porém, a necessidade de dar alguns esclarecimentos aos leitores, o que faço agora.
Economia é uma coisa complicada e conjuntura econômica mais complicada ainda. Além disso sendo o público leitor não especialista no assunto tento usar uma linguagem mais acessível procurando não deixar escapar o essencial. Serei também obrigado a dar algumas explicações de economia sem usar o “economês” para que possa fazer uma análise crítica mais profunda dos acontecimentos. Esta é mais uma dificuldade a enfrentar, mas nada que não seja possível superar considerando-se que há mais de 60 anos sou professor de economia em países de 3 continentes e com alunos de vários níveis sociais e trabalho com análise de conjuntura.
Então, vamos a isso.
Se a Rejane concordar, o que será confirmado se este texto for publicado, de vez em quando usarei a semana de intervalo entre as análises para complementar, com algumas questões teóricas, os assuntos que forem sendo tratados.
E o primeiro passo será dado agora.
Nas nossas opiniões partimos do pressuposto que a economia é regida por leis. Os fenômenos econômicos não acontecem por acaso ou acidente ou por vontade das pessoas. Eles têm causas, não são casuais. A dificuldade é que, como a economia (realidade) se move pela ação dos seres humanos, e só existe com eles, como afirmar que ela independe da vontade humana? O fato é que embora pensem que agem por sua vontade própria as pessoas, na economia, são apenas personificadoras de relações e leis econômicas. Assim, quando um empresário cuida bem da sua empresa ele o faz porque personifica o fenômeno capital que determina o seu comportamento e a sua ação. São escravos do capital. São eles que dão cérebro, voz, mãos e perna são capital. Se não obedecerem corretamente às ordens do seu senhor serão punidos com a expulsão do clube dos capitalistas, vão à falência. Por isso, como empresários, todos pensam da mesma maneira. Ao longo de nossas conversas daremos outros exemplos.
O conhecimento das leis do capitalismo nos permite acompanhar os movimentos da economia e traçar linhas de evolução futura. Quando analisamos a conjuntura estamos nos referindo ao curto prazo, dias, semanas, meses e não aos grandes movimentos. Temos de levar em consideração, então, a teoria dos ciclos econômicos pois são eles que regem as variações conjunturais. A teoria econômica reconhece que o movimento real da economia se dá em ciclos de quatro fases que se repetem em certa ordem: crise, depressão, reanimação e auge. Não é obra do acaso, portanto, as oscilações de crescimento e decrescimento que observamos na economia, mas a interferência da política econômica dos governos pode provocar grandes alterações neste movimento. Este é um dos pontos de contacto entre a economia e a política. No entanto, a política econômica não pode evitar ou abolir os ciclos. Eles são inerentes ao capitalismo. Será nosso propósito estudar estas políticas e avaliar o tipo de alterações que elas podem provocar.
No momento atual a situação é um pouco mais complexa diante do aparecimento da pandemia do covid-19, fator não econômico, mas que tem consequências graves para a economia o que dá características especiais à fase de crise do ciclo atual.
E com estas considerações termino, agradecendo a atenção e reforçando o convite para que nos acompanhem no desafio a que nos propomos.