Disputas imperiais – uma análise do conflito na Ucrânia
Ao longo da história, todos os impérios obedeceram a uma crua lógica geopolítica: ou eles se expandem ou perecem, sob o domínio de outro império. Foi assim com os impérios grego, romano, português, espanhol, holandês, inglês e francês. Para ficarmos apenas nos exemplos ocidentais.
A invasão da Ucrânia por tropas russas e a reação dos Estados Unidos tem raízes profundas, que remontam ao fim da Segunda Guerra Mundial (1945), quando o império soviético passou a rivalizar com o império norte-americano, dividindo o planeta em duas áreas de influência: uma capitalista e outra comunista. A chamada Guerra Fria foi, na verdade, “muito quente” nas áreas periféricas da Ásia, África e América Latina.
Os EUA têm uma longa tradição em invadir países e anexar seus territórios. Começou na guerra contra o México (1846-48), quando tomou do país vizinho a Califórnia, Nevada, Utah, Arizona, Novo México e Texas. Em 1898, o governo de Washington entrou em guerra com o combalido império hispânico e tomou Porto Rico, Guam e Filipinas, além de ter transformado Cuba numa área de influência econômica e política.
Durante todo o século XX, sucessivos governos norte-americanos determinaram a invasão de vários países na América Central. Nas décadas de 1920 e 1930, a Nicarágua, Honduras, Costa Rica e República Dominicana foram ocupadas pelos fuzileiros navais americanos, sempre em defesa dos interesses econômicos de Wall Street.
Nas décadas de 1960 e 1970, os EUA patrocinaram com dinheiro, armas e soldados diversos golpes militares por toda a América Latina e outros continentes. Cabe lembrar a desastrosa guerra do Vietnã, que matou milhões de vietnamitas e 58 mil soldados norte-americanos. Tudo em nome da democracia liberal e do capitalismo.
A União Soviética também não ficou atrás na escalada expansionista. Desde a sua fundação, ocorrida em 1917, foi paulatinamente anexando territórios adjacentes até constituir as 15 repúblicas comunistas sob o domínio direto de Moscou. Além disso, a Polônia, Hungria, Romênia e Bulgária tinham governos títeres sob o rígido controle do Kremlin. Para garantir sua supremacia na região, Moscou também determinou a ocupação militar da Hungria (1956), da Checoslováquia (1968) e Afeganistão (1978). E, em 2014, Putin invadiu a Crimeia.
O que estamos presenciando na crise da Ucrânia é a continuidade da disputa imperial entre os Estados Unidos e Rússia. Enquanto o governo norte-americano pressiona Kiev para ingressar na OTAN (aliança militar capitaneada pelos EUA), Putin reage invadindo o país e anexando parte do seu território (Donetsk e Lugansk), a região na qual a população fala a língua russa e luta por separar-se do país ucraniano. Expandir ou perecer continua sendo a lógica do imperialismo.
Caso o conflito na Ucrânia se prolongue, terá um custo incalculável em vidas e bens materiais. Como ocorre em todas as guerras, os mais prejudicados serão os mais pobres. Enquanto isso, os senhores dos impérios continuarão lucrando com a venda de armas, anexação de territórios e lucrativos acordos econômicos para reconstrução das regiões em escombros.