Disputa cristalizada
A eleição presidencial só terminará às 17h00 do dia 2 de outubro de 2022. Até lá, tudo pode acontecer. Por isso, qualquer previsão que aponte, taxativamente, quem será o próximo presidente carece de fundamentação científica. É palanque. Não é análise.
Mesmo assim, as pesquisas realizadas até agora indicam uma cristalização na disputa entre Bolsonaro (PL) e Lula (PT). A tese de uma terceira via, tão desejada por Ciro Gomes (PDT), já está à deriva, com remotíssima chance de se viabilizar.
De acordo com o instituto Datafolha, se a eleição fosse agora, Lula teria 47% dos votos e Bolsonaro 32%. Totalizando 51% dos votos válidos, o candidato petista seria eleito no primeiro turno. É uma diferença significativa. Mas a eleição não é hoje. Faltam muitos dias e milhares de fake news até o dia da votação.
Bolsonaro tem avançado. Passou de 29% na última pesquisa para 32%. Mesmo lentamente, o candidato da extrema direita tem recuperado terreno entre os eleitores que recebem entre 2 e 5 salários mínimos. Segmento importante beneficiado com a desaceleração do ímpeto inflacionário, diminuição do preço da gasolina e auxílio para taxistas e caminhoneiros.
Enquanto isso, Lula continua campeão de votos entre aqueles que ganham até dois salários mínimos. O candidato petista pontuou nesse segmento 55% contra 23% de Bolsonaro. Lula segue sendo o preferido dos menos escolarizados, dos jovens, das mulheres e dos nordestinos. Entre esses eleitores, Bolsonaro aposta recuperar votos com a capilarização do Auxílio Brasil. Se irá conseguir, só o tempo dirá.
Faltando pouco mais de um mês para a eleição, o que importa mesmo na pesquisa é o índice de rejeição. 51% dos eleitores disseram que não votariam em Bolsonaro, enquanto 37% opinaram que não votariam em Lula. Reverter esse quadro é o maior desafio para os bolsonaristas. A história recente do país demonstra que, em todos os pleitos presidenciais, quem ganhou no primeiro turno também ganhou no segundo turno. Collor (1989), Lula (2002 e 2006), Dilma (2010 e 2014), Bolsonaro (2018). Em todas as disputas anteriores, nunca houve virada. Mas cada eleição tem suas peculiaridades.
É a primeira vez que temos um ex-presidente disputando com um presidente em exercício. A comparação entre as duas gestões será decisiva nas estratégias de campanha dos respectivos candidatos. O eleitor não vota apenas por gratidão. Ele é pragmático. Ele também decide votar de olho no futuro, naquele candidato que confia e que irá atender aos seus interesses, sejam econômicos, sejam comportamentais.