Culpado, mas presidenciável
O megaempresário e candidato Donald Trump é o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a ser condenado criminalmente na história do país. Por decisão dos jurados, em julgamento realizado na ilha de Manhattan (New York), ele foi responsabilizado por 34 crimes.
Mesmo assim, Trump pode ainda voltar a ocupar o Salão Oval da Casa Branca. Na América do Norte, diferentemente do Brasil, não há impedimento de um condenado pela justiça disputar a eleição presidencial e, caso ganhe, exercer o mais alto cargo político do país.
O sistema eleitoral norte-americano, como afirma Robert Dahl, um dos maiores cientistas políticos dos Estados Unidos, não é inteiramente democrático. Em seu livro clássico A Constituição Norte-americana é Democrática?, Dahl escreve que, por temor da participação popular, a elite agrária que conduziu a independência criou um processo de escolha indireta de presidente.
Na América do Norte, a eleição pra valer só ocorre no Colégio Eleitoral, instância em que apenas 538 delegados definem quem será o próximo presidente. Esse sistema, criado no final do século XVIII, perdura até hoje, em pleno século XXI, sem atualizações e com profundas distorções.
O sistema eleitoral americano é tão elitista que, por duas vezes nas últimas décadas, quem ganhou no voto popular terminou perdendo no Colégio Eleitoral. Em 2000, Al Gore (PD) obteve 48,4% entre os americanos, enquanto George Bush (PR), finalmente indicado presidente pelos delegados, teve 47,9%. Em 2016, Hilary Clinton teve 48,2% e Trump 46,1%. Mesmo assim, Donald Trump foi escolhido presidente no Colégio Eleitoral.
Os Estados Unidos, a maior potência econômica e militar do mundo, corre sério risco de ter novamente um presidente que construiu sua trajetória política baseado em fake news, achincalhamento da justiça, com um discurso populista de direita e, agora, condenado pela justiça americana.
God Save America!