Conjuntura Econômica ou conjuntura de guerra
Temos falado nesta coluna que nossas análises se baseiam em teorias científicas que nos permitem traçar linhas de evolução futura para a economia. Para isto acompanhamos os dados estatísticos que as entidades oficiais publicam. Também falamos aqui sobre a política econômica que pode interferir nos movimentos da economia acelerando-os ou retardando sua ação, mas nunca conseguindo abolir as leis que os regem. Além disso alertamos para outros fatores externos à economia que igualmente poderiam ter influência no andamento dos fenômenos econômicos. Durante várias análises discutimos um destes elementos que estava causando grandes alterações no comportamento da economia mundial e local: o coronavírus. Este elemento da natureza provocou profundas perturbações desorganizando as cadeias produtivas, o comércio mundial, os diferentes mercados, a agricultura, os serviços, a atividade extrativa, a indústria etc. Claro que estamos nos abstraindo das questões econômicas que estão por traz do surgimento de agentes patogênicos como o covid-19.
À duras penas, graças ao avanço da ciência que conseguiu produzir em tempo recorde e implementar uma vacinação em massadas populações, conseguimos um certo controle sobre a pandemia. Aos poucos a economia mundial vinha retomando o seu caminho natural que era a recuperação, depois de tanta destruição.
Mas a vida nos reserva muitas surpresas. Desta vez é a política que vem atropelar a economia: a invasão da Ucrânia pelas tropas da Rússia. Nestas circunstâncias torna-se muito difícil fazer análise de conjuntura pois a guerra não está prevista em nenhum manual de economia ou é objeto de tratamento de nenhuma teoria econômica. Estamos mesmo vivendo um período excepcional altamente perturbado. A guerra, que mal começou, já apresenta seus efeitos e certamente eles serão catastróficos. No momento o mais importante não é saber quem é o culpado, mas como interrompê-la no mais curto prazo o que não parece ser a preocupação nem do invasor nem dos demais países da comunidade das nações, com algumas exceções naturalmente. A histeria espalha-se e envenena toda a imprensa e os órgãos de comunicação. A imagem do agressor é conhecida e estampada em toda parte bem como o agredido. Temos a luta de Davi e Golias. É natural que todos tendam para o lado do coitadinho Davi covardemente agredido pelo monstro Golias. Certamente não é possível deixar de condenar a agressão feita pela Rússia. Está claro quem é o mocinho e o bandido. A partir daí começa o massacre da mídia. Poucas pessoas param para pensar nos fatos que se escondem por trás do conflito e o papel que nele desempenham os Estados Unidos e a OTAN que, juntos, armaram o golpe que derrubou o governo ucraniano e inventaram um palhaço estúpido para colocar no lugar de presidente e funcionar como um fantoche a cumprir com suas ordens.
A guerra, de todos os pontos de vista, é condenável. Mas o que levaria a Rússia a tomar tão tresloucada decisão? Há uma resposta fácil e que está sendo empurrada a todo custo na cabeça das pessoas. A Rússia é um país imperialista que quer conquistar novos territórios e expandir suas fronteiras sobre a Europa. O povo russo é intrinsicamente mal e vive ameaçando a humanidade.
Recuso-me a aceitar tal explicação simplista e medíocre. A história nos prova o contrário. Sempre foram os europeus que invadiram o território russo. Para não ir muito longe, já em 1812 Napoleão Bonaparte tentou a primeira conquista invadindo o território russo com um exército de quase um milhão de soldados. A porta de entrada foi a Ucrânia. Sofreu uma derrota humilhante. O mesmo ocorreu em 1914 na primeira guerra mundial. Novamente o povo russo foi obrigado a defender seu território e expulsar os invasores que haviam entrado pela Ucrânia. Mal terminada a guerra, a intervenção estrangeira na Rússia continuou com o apoio aos exércitos brancos, que lutavam contra o estado soviético das tropas de 14 nações, entre as quais Inglaterra, França, Itália, EUA, Finlândia, Grécia etc. Tratava-se de deter a expansão do comunismo. Todos foram derrotados e expulsos. Novamente, na segunda guerra mundial, a invasão volta a ocorrer sob o comando dos alemães estimulados pelos ingleses e com a conivência de outras nações. Mais uma vez o corredor ucraniano é usado. A desculpa mais uma vez era deter o comunismo. Mas o tiro saiu pela culatra. O demente Hitler voltou-se contra a Europa para acumular forças antes da batalha decisiva contra os vermelhos. Novamente os russos, agora mais poderosos com a formação da União Soviética, derrotaram os inimigos e humilharam o invencível exército alemão, mas a custa de milhões de mortos. O fantasma do comunismo levou então o ocidente a formar a aliança militar OTAN com o objetivo de controlar a expansão para oeste do bloco socialista. Os países socialistas responderam com a criação do Pacto de Varsóvia. Com a dissolução do bloco socialista, da própria URSS e do Pacto de Varsóvia, a OTAN perdeu a razão de existir. Por que não foi dissolvida? Fica a pergunta para ser respondida.
Pelo contrário, ela foi fortalecida com a adesão de todos os países que saíram do sistema socialista, ou seja, a OTAN avançou para leste em direção à Rússia. Com os países da antiga URSS aconteceu o mesmo: adesão à OTAN que continuou o avanço em direção ao território russo. E agora, o palhaço promovido a presidente da Ucrânia também solicitou adesão à OTAN. É bom lembrar que com a cobertura da OTAN os EUA instalaram bases e ogivas nucleares por toda a Europa e em outras partes do mundo construindo um completo cerco ao território russo.
Afinal quem tem sido o agressor? Mais uma pergunta a responder.
Agora estamos entalados com uma guerra dentro da Europa, e os belicistas da OTAN, que deveria ter sido dissolvida depois da dissolução da União Soviética, a rangerem os dentes de satisfação por empurrarem suas armas nas mãos dos outros e curtirem o sangue derramado para a satisfação de seus interesses. Desta vez o povo ucraniano é a grande vítima que paga o preço em sangue.
O primeiro grande efeito da guerra já não se pode evitar. A economia mundial mergulhará novamente na fase de crise. A produção, o comércio, a comunicação, tudo será desorganizado, o desemprego aumentará, a inflação, a fome, milhares de refugiados. Isto já é inevitável. Os gananciosos capitalistas europeus e americanos, porém, podem considerar como certa a redução de seus lucros (exceto os fabricantes de armas, claro).
As sanções impostas a Rússia terão consequências para todos e particularmente para os europeus que continuam a servir de capachos dos americanos. No Brasil, também não escaparemos. A subida dos preços do petróleo, das commodities, da energia dará grande impulso à inflação que já nos perturba. O real continuará a desvalorizar-se ampliando a inflação. A falta de fertilizantes prejudicará a agricultura. O desemprego vai aumentar também por aqui.
E comecemos a torcer para que as coisas não saiam do controle e a guerra se mantenha nos níveis convencionais. Os russos já ameaçaram com a mudança de patamar.
Não está para brincadeira. O risco é todos virarmos churrasco.