Colômbia: opção pela esquerda
A Colômbia parece ter sido inventada pelo genial escritor Gabriel García Márquez. Tudo nela é de uma grandiosidade monumental: a força e a exuberância da floresta amazônica, a luta guerrilheira que durou mais de cinquenta anos, a violência política e a guerra sangrenta entre os narcotraficantes.
O país ganhou notoriedade planetária nos anos oitenta por ser o berço da produção e exportação da cocaína, principalmente para os Estados Unidos, maior mercado consumidor de drogas das Américas. A guerra entre os cartéis de Cáli e Madellín ensanguentaram o país. Além disso, as guerrilhas da FARC e do M-19 ainda lutavam para implantarem o sonho da utopia comunista.
Em 1990, depois de verem seus principais integrantes mortos, o M-19 abandonou a luta armada e tornou-se um partido político. A partir dessa decisão histórica, o jovem Gustavo Petro trocou o fuzil pela caneta, concluiu o curso de economia e deu início a uma carreira política de sucesso.
Petro tem larga experiência na vida pública. Já havia sido candidato a presidente duas vezes, em 2010 e 2018. Foi prefeito de Bogotá (capital do país), entre 2012 e 2015, e fundador do movimento Colômbia Humana, que o transformou numa esperança de renovação política diante do quadro de desgaste dos grupos tradicionais.
Chegou o momento tão esperado por Gustavo Petro. Pela primeira vez na história colombiana, um candidato esquerdista ganhou a presidência do país. Também pela primeira vez, os colombianos elegeram uma mulher negra para o cargo de vice-presidenta: Francia Márquez.
Francia tem uma longa trajetória de lutas sociais. Com 40 anos, Francia é advogada, ativista ambiental e luta contra a mineração ilegal. Ela já sofreu um atentado contra sua vida e recebe constantes ameaças de morte. Durante a campanha, viu recrudescer o preconceito racial contra ela, principalmente nas redes sociais.
Os desafios de Gustavo Petro e Francia Márquez são enormes. A Colômbia tem 50,1 milhões de habitantes e, apesar de ser a terceira economia do continente sul-americano, boa parte da sua população vive abaixo da linha da pobreza, principalmente os mestiços e negros. Um dos principais problemas sociais do país é o deslocamento da população em consequência da violência do narcotráfico.
A América Latina está de olho nos desdobramentos do que ocorrerá na Colômbia. Mesmo que Petro e Francia não consigam implementar tudo que prometeram, eles já entraram para a história do continente pela difícil vitória sobre a extrema direita no país.