Calma interna, mas nuvens pesadas no horizonte
Enquanto a tensão continua a agravar-se pelo mundo, no país a crise prossegue com a economia em desaceleração. Apesar disto o Banco Central (BC) bate no peito e declara sua intenção de manter a taxa Selic em alta e mesmo aumentá-la. Para conter a elevação dos preços o BC, teimosamente tenta desacelerar a economia e já está conseguindo. O BC rema contra a maré ao agir contra as intenções do governo que pretende relançar a economia. Aliás, este é o seu grande desafio.
As promessas de campanha de melhorar a vida das pessoas obrigam a tomada de decisões neste sentido. Vão nesta direção o aumento do salário-mínimo, a retomada das obras públicas e, em particular, do “Minha Casa, Minha Vida”, a ação dos bancos públicos para a redução dos juros, e enfim, a retomada do funcionamento de todos os serviços prestados pelos ministérios, ou seja, a restauração do funcionamento do aparelho de estado desativado pelo desgoverno anterior que nunca governou e para a nossa felicidade foi incompetente até para fazer contrabando de joias e roubá-las do patrimônio nacional.
A elevação dos juros, consequência da política do BC, tem provocado restrições no crédito e dificultado a situação das empresas que, com a queda nas vendas, não conseguem repor os caixas. A quebra das Americanas é um exemplo. As empresas de avaliação de riscos Moody’s e Fitch já rebaixaram a classificação de várias empresas brasileiras o que as coloca em situação mais difícil para conseguir recursos para suas operações. Esta situação vem provocando manifestações e protestos de entidades representativas dos setores industriais e comerciais e mesmo dos bancos. Com juros altos desestimula-se o consumo e a produção, o que, na opinião do BC, é o caminho para combater a inflação. Os diretores do banco, liderados pelo seu badalado presidente Roberto Campos Neto, e fiéis à sua fanática ideologia econômica pensam que podem acabar com a guerra na Ucrânia, impulsionar a economia da China, reconstruir as cadeias de valor globais, restaurar o comércio mundial e as linhas de comunicação internacionais com a elevação da Selic. Grande Roberto!
Apesar das “boas intenções” do nosso badalado Bob Fields, a economia mundial não vem se comportand0 bem como ele desejaria. Para tristeza geral, a China propõe como meta de seu crescimento uma taxa considerada “mixuruca” de 5%. No entanto, ela propõe para o seu orçamento da defesa uma taxa de crescimento de 7,2% de seu PIB, o que tem provocado a fúria dos EUA. Eis o resultado do aumento das tensões, consequência da guerra da Ucrânia e das manobras americanas em torno da ilha de Taiwan que os chineses consideram parte de seu território. A aproximação e o estreitamento da aliança entre China e Rússia, agravado pela possibilidade do fornecimento de armas chinesas para a guerra, tem provocado crises de pelanca entre os caquéticos generais da OTAN e seus patrões americanos. Curiosamente ninguém condena o fornecimento de armas por todos os países da União Europeia às forças ucranianas. Os EUA pressionam mesmo todos os seus amigos mundo afora para a colaboração na guerra e até o Brasil já foi sondado e felizmente teve a sensatez de se recusar.
Durante a semana as tensões aumentaram com uma severa advertência feita pela China aos EUA e com a derrubada de um drone americano pelos caças russos sobre o Mar Negro. Aliás, a economia americana não anda muito bem das pernas. Apesar dos sinais de crescimento e queda do desemprego, a inflação continua a ser uma ameaça. Lendo pela mesma cartilha do nosso BC, o Federal Reserve (Fed), o BC americano, está declarando que pretende aumentar os juros que passarão do no intervalo entre 4,5% e 4,75% hoje, para 5,75% e 6%. Certamente isto terá consequências para o fluxo de capitais estrangeiros para os países emergentes, incluindo o Brasil.
O panorama político interno parece ter encontrado uma certa estabilidade. Pelo menos isto. Apesar das tensões oriundas da criação de uma CPI dos acontecimentos de Brasília, as duas casas voltaram a funcionar normalmente. Até o relacionamento com os militares atravessa um período de calma. O governo conseguiu encontrar algumas dezenas deles que honram a farda que vestem. Assiste-se um retorno organizado aos quarteis. Neste contexto foram muito importantes os pronunciamentos do novo comandante do exército, General Tomás Ribeiro Paiva, e do presidente do Superior Tribunal Militar (STM), tenente brigadeiro Francisco Joseli Parente Camelo.
Esperemos que esta tendência se mantenha e que as punições que virão como consequência da apuração da participação de militares nas bandalhas do desgoverno Bolsonaro não os assanhem novamente. Muita coisa eles terão de explicar. Que vergonha para a marinha a transformação de militares em mentirosos contrabandistas de joias sendo um deles mesmo de alta patente, o almirante de esquadra reformado Bento Albuquerque, ex-ministro das Minas e Energia.
Outro caso embaraçoso foi a permissão para que golpistas acampassem em frente dos quarteis e aí passassem a conspirar. O ataque aos prédios dos Três Poderes foi planejado e montado a partir do quartel do Exército em Brasília que, de quebra, impediu a polícia de prender os golpistas durante algum tempo, o que permitiu a fuga de muitos. Isto para não falar do comandante do batalhão da guarda presidencial que assistiu de braços cruzados aos atos de vandalismo sem nada fazer.
Estava terminando a redação deste texto quando explodiram as notícias da quebra de dois pequenos bancos americanos e das dificuldades do Crédit Suisse, este sim, um grande banco suíço. Até agora os governos e bancos centrais estão dando apoio e recursos a eles garantindo os interesses dos depositantes, na tentativa de evitar o pânico nos mercados financeiros e bolsas o que, aliás, já começou. Parece que mais uma vez tivemos razão ao prever a aproximação da crise e seu caráter financeiro.
Aguardemos os próximos dias.