Aonde está o heroico Moro?
Vivemos em busca de heróis redentores na política. Precisamos desses arquétipos que irão nos salvar do perigo, das dificuldades da vida, dos problemas sociais. Os mitos heroicos fazem parte da nossa cultura, nos inspiram e nos conduzem. E, algumas vezes, nos decepcionam.
Para os partidos de esquerda, foram Luís Carlos Prestes (o Cavaleiro da Esperança), Ernesto “Che” Guevara, Fidel Castro, Hugo Chávez e agora, mais uma vez, Lula, apenas para ficarmos em alguns nomes que nutrem o desejo de igualdade e fraternidade com justiça social.
Para os agrupamentos de direita, Hitler, Mussolini, Médici, Pinochet, coronel Ustra e agora Jair Bolsonaro ocupam o anseio conservador pautado na segregação social, na exclusão racial e no fim da ampliação dos direitos civis das minorias.
Em período recente, Sergio Moro despontou como um herói vingador. Com sua voz esganiçada e sentenças à margem da lei, o então juiz federal foi prendendo políticos de direita e de esquerda, mediante acusações obtidas, muitas vezes, através de meras delações premiadas, sem as devidas provas matérias.
De uma hora para outra, Moro despontou como paladino da justiça. Sob a proteção do cargo de juiz federal, agiu ao arrepio da lei para fazer a “justiça da rua”. A mesma que, na pressa em punir, a multidão comete os linchamentos daqueles acusados por crimes não comprovados.
O ápice do magistrado “imparcial” foi quando condenou o ex-presidente Lula à prisão. Os grupos anti-petistas, das mais diversas matizes, passaram a endeusar o “Moro justiceiro”. Nesse momento, ele tornou-se numa celebridade nacional e internacional.
A atuação de Moro na Lava Jato e a interferência na eleição presidencial de 2018 consolidou a onda bolsonarista. Mas, em pouco tempo, ficou comprovado que ele fazia mais política do que justiça.
Como prêmio, Moro trocou a toga pelo cargo de ministro da Justiça de um presidente que despreza a democracia, exalta a tortura, se posiciona contra os direitos humanos, cantando loas ao autoritarismo. Moro deixou de vez a carreira jurídica e abraçou a vida partidária.
Ele queria ser presidente. Mas, ao romper com Bolsonaro, perdeu sua base política direitista mais aguerrida. Agora, ao criticar o deputado Mamãe Falei, um dos principais dirigentes do MBL, viu desabar seu principal palanque em São Paulo.
Na última pesquisa presidencial, realizada pelo Quaest/Genial e publicada pela CNN, Sergio Moro amarga 6% da preferência dos eleitores. Nesse momento, ele é desprezado e odiado tanto por eleitores de direita quanto de esquerda, por diferentes razões.
A campanha presidencial ainda não começou pra valer. Não há ainda ganhador nem perdedores. Tudo é incerto e duvidoso para quem acompanha as peripécias da política nacional. Mas, o maior desafio de Moro é recuperar a aura de herói e superar a polarização eleitoral entre Lula e Bolsonaro.
Pelo cenário desfavorável para Moro, seu esforço é maior do que os doze trabalhos do mitológico Hércules.