A nova onda Ômicron e a economia
Os prognósticos sombrios para 2022 continuam sendo reforçados. E se não bastassem os fenômenos econômicos, a natureza mais uma vez nos surpreendeu com um novo ataque do vírus mutante. A variante Ômicron, nova cepa do coronavirus, espalha-se pelo mundo com uma velocidade surpreendente. Apesar de não se apresentar tão letal, contribui para tumultuar a recuperação que tenta abrir caminho em meio a grandes dificuldades. O sistema ainda não conseguiu reorganizar as cadeias produtivas e comerciais que a globalização tão bem integrou. O desajustamento é geral. O caos logístico continua. Portos abarrotados, navios em fila para atracar, falta de contêineres, falhas na distribuição terrestre por deficiência de motoristas e de caminhões, cancelamento de voos e, como consequências, a elevação das tarifas e fretes. Os produtos são encarecidos, formam-se gargalos para a produção pela falta de insumos e matérias primas, a distribuição dos produtos é dificultada e a inflação acelerada. A economia mundial arrasta-se golpeada pela nova onda do covid-19. Pelo visto, a situação vai perdurar. A solução apontada é a distribuição universal das vacinas e a vacinação de toda a humanidade. Só isto pode frear as mutações do vírus que encontram terreno propício nos países mais pobres da África e Ásia que não têm recursos para adquirir as vacinas e adotar medidas para estimular a recuperação.
O novo surto do convide-19 fortalece ainda mais a ideia de que a crise é provocada pelo vírus e não é um fenômeno econômico característico do capitalismo. O covid apenas está dando características especiais ao ciclo atual que na sua origem já trazia particularidades.
A desorganização da economia mundial fez ressurgir um velho fenômeno que parecia ultrapassado, a inflação. Os preços dispararam nos países da OCDE onde as taxas atingiram 5,8% e nos EUA com 6,8%, a maior taxa dos últimos 39 anos. Esta incômoda novidade levou o Federal Reserve (Fed.), Banco Central americano, a anunciar a adoção da única receita que a teoria oficial recomenda: aperto monetário com a retirada dos estímulos e a elevação dos juros. Segundo o FMI, esta ação leva a incerteza aos países emergentes. A repercussão nestes países foi imediata, particularmente no Brasil onde o Ibovespa caiu e o dólar subiu. Explode o temor de debandada dos dólares que retornam a sua origem à procura de segurança.
Consultorias e instituições financeiras apressam-se a rever seus prognósticos de crescimento alertando para as duas velocidades na recuperação e no aumento da desigualdade. A Cepal, por exemplo, reviu sua previsão para o crescimento do PIB da América Latina de 2,9% para 2,1% para o ano de 2022.
O agravamento da situação internacional piora os prognósticos para a economia local que já se afunda com a inflação, os juros elevados, os gargalos na produção, as incertezas fiscais e políticas em ano de eleição, a nova onda da Ômicron. Soma-se a isto a demência do presidente com suas atitudes fanáticas e destemperadas. O descontrole de Bolsonaro aumentou com a divulgação da última pesquisa feita pela Quest/Genial que apontou Lula com 45% das intenções de voto, Bolsonaro com 23% e Moro com 9%. A avaliação negativa do governo está em 56%. O presidente retomou sua ofensiva contra as medidas de combate ao vírus, condenou a vacinação de crianças e resolveu atacar a Anvisa o que provocou a reação do seu presidente Antonio Barra Torres desafiando-o a provar as acusações ou se retratar, coisa que ele certamente não fará. Foi aberta uma nova crise com mais um setor das forças armadas pois o Barra Torres é um oficial da marinha com o posto de general. Como tem um mandato de 2 anos, não pode ser demitido pelo presidente. Pela primeira vez surge um militar de alta patente com coragem de contestar a insensatez do Bolsonaro.
Além desta nova frente de atrito, o aumento de salários concedido aos setores de segurança do governo provocou o movimento de reinvindicação salarial de todos os funcionários que ameaçam entrar em greve. E o desgaste do governo levou o Centrão a cobrar um preço mais elevado pela sua participação: mais poderes para a Casa Civil com a transferência, para Ciro Nogueira, de atribuições do Guedes sobre o orçamento. A transferência de dotações orçamentárias e criação de créditos suplementares, antes atribuições da economia, serão submetidos ao ministro da casa civil.
As más notícias não ficam por aí.
A Petrobrás afirma que manterá sua suicida política de preços de paridade internacional, o que significa que os preços dos derivados continuarão a subir.
O Banco Central (BC) informa que continuará a aumentar os juros (Selic). Como a inflação de 2021 chegou a 10,06%, ultrapassou o centro da meta de 3,75% e chegou a estourar o teto que era 5,25%. Um fracasso total. Nestes casos, por lei, o presidente do BC é obrigado a escrever uma carta ao ministro da economia dando explicações. A carta foi escrita. Esta é a segunda carta bomba da semana. Também por lei, esta carta deve explicar as causas, as providências a tomar e o tempo para a correção. O BC apontou as causas: os preços das commodities (petróleo), da energia (escassez hídrica), os desequilíbrios entre oferta e demanda pela falta de insumos, gargalos nas cadeias globais. Como solução o BC apontou a Selic e o prazo para correção de 3 anos. Vejam os leitores até onde vai a demência dos teóricos do BC e da teoria econômica que eles utilizam. Vão punir com juros altos: São Pedro para que mande chuvas, a OPEP, e outros produtores de petróleo para baixarem os preços, o capitalismo mundial por ter desorganizado as cadeias produtivas. Isto, e apesar de todos conhecerem os efeitos negativos da elevação dos juros para a recuperação da economia, a Selic subirá e com ela os juros.
O IBGE calcula que o agronegócio não ajudará no crescimento do PIB. Em 2021 sua participação nas exportações já havia caído de 48,1% para 43%. Para o presente ano
as condições climáticas apresentam-se desfavoráveis com secas e escassez de chuvas o que já provocou a revisão das safras que serão prejudicadas.
Setores empresariais também demonstram descontentamento. Os empresários de portos e ferrovias pressionam pela revogação do veto do governo à desoneração dos setores. As concessionárias de infraestruturas, rodovias, portos, ferrovias, aeroportos pedem revisão dos contratos por causa da alta inflação.
A economia não está colaborando com a eleição do presidente. A estagflação continuará a atormentar o povo sofredor. A crise tende a agravar-se alimentada pela política econômica do governo.
Até quando Bolsonaro continuará a abusar da paciência de todos?