A destruição da economia pela má política
Não causou grandes surpresas a publicação, pelo IBGE, dos dados sobre a situação da economia no primeiro trimestre. O governo comemorou o crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Quando analisamos a desagregação por setores descobrimos os motivos para tal crescimento e vemos que não há muito a comemorar. Ele foi puxado pelo setor de serviços (1%), pelo lado da oferta, e, pelo lado da demanda, pelo consumo das famílias (0,7%) e comércio exterior. O setor externo teve um saldo positivo pois as exportações cresceram 5% e as importações decresceram -4,6%. O consumo do governo pouco contribuiu (0,1%). O crescimento da indústria foi também de 0,1% e o Agro decresceu -0,9%. Outra decepção foi a retração (-2,6%) da indústria de bens de capital, fundamental para os investimentos. Correspondendo a esta queda, os investimentos decresceram -3,5%. O setor de extração mineral foi outra grande decepção com uma queda de -3,4%. Os leitores nos desculpem pelo aborrecimento de citar tantos números, mas eles são necessários para fundamentar nossas observações.
Nestas circunstâncias os resultados não provocam grande otimismo. A aceleração do crescimento dos serviços era previsível. O controle da pandemia, conseguido graças à vacinação que, convém lembrar, foi feita contra a vontade do governo federal e de seu incompetente ministro da saúde general Pazuello, levou ao relaxamento das medidas restritivas, o que serviu como forte estímulo à reabertura dos negócios no comércio e no turismo (hotéis e restaurantes), com o consequente aumento do emprego. Além disso, outros fatores concorreram para o aumento do consumo como o começo do pagamento do Auxílio Brasil, o aumento do salário-mínimo, o corte dos impostos, a queda nas tarifas de importação, os saques no FGTS, os subsídios para o gás e o diesel e o aumento dos salários dos funcionários de estados e municípios. Todos são fatores extraordinários que não se repetirão nos próximos trimestres condenando o setor de serviços a perder o posto de locomotiva do crescimento. Aliás as estimativas para o PIB já estão sendo reduzidas para valores inferiores a 0,4%.
Há ainda fatores adversos vindos do exterior como a guerra na Europa, a inflação no mundo, o aumento dos juros pelo Federal Reserve (Fed), Banco Central americano, e de outros Bancos Centrais (BCs), a crise de alimentos e energia, agravando a desorganização das cadeias produtivas, do comércio e do transporte marítimo.
Por outro lado, a inflação continua fora de controle assumindo a forma de estagflação, que os BCs tentam combater loucamente com a elevação dos juros, única receita que eles conhecem. É exatamente esta elevação que contribuirá para agravar a desaceleração da economia mundial nos próximos períodos. O Fed já anunciou o aumento de sua taxa de juros e outras medidas de restrição monetária o que aterroriza as autoridades do BC brasileiro, pois pode contribuir para a fuga de capitais de volta para a segurança dos investimentos nos EUA.
No Brasil os dados sobre o desemprego melhoraram. A taxa de desemprego caiu de 11,1% para 10,5%, mas ainda há 11,349 milhões de desempregados. Acrescendo os 4,451 milhões de desalentados (os desempregados que não mais procuram emprego) e os subutilizados (os que gostariam de trabalhar mais, mas não encontram trabalho) o excedente de trabalhadores chega a 22,5% do total, ou seja, 26,096 milhões de pessoas, com o agravante de que entre os empregados 40,1% são informais. Esta redução do desemprego também era esperada com a retomada dos serviços embora os empregos criados sejam de baixa qualidade e remuneração. De qualquer forma provoca algum aumento na demanda. Mas, somando-se os fatores estagflação, baixos salários, juros elevados, informalidade, inadimplência crescente, incerteza, turbulência política e social, certamente não se tem um bom ambiente para o crescimento da economia nos próximos trimestres.
Estes são os dados objetivos que a realidade nos impõe. Sobre eles age o governo com sua política econômica e aí aumenta o desastre. A política interfere na economia e no nosso caso, piorando a situação. Temos um desgoverno incompetente e inescrupuloso, acossado pelos números apresentados pelas agências de pesquisa, e disposto a qualquer coisa para se reeleger nas próximas eleições. Com o suporte de um congresso formado em sua maioria pelo lixo político do “Centrão”, como um aprendiz de feiticeiro, o desgoverno engendra as artimanhas mais absurdas na tentativa de melhorar sua avaliação. O BC parece não poder mais ajudar pois jogou a toalha desistindo de fazer a inflação atual de 12,13% convergir para a meta de 3,5%, mesmo no próximo ano. No vale tudo, tenta-se aprovar um teto para o ICMS cobrado pelos estados sobre os combustíveis e cogita-se até de um decreto de calamidade pública para adotar medidas de emergência. Já foi feito um contingenciamentos de despesas do orçamento aprovado que atingirão educação, saúde, ciência, setores sem importância, para dar espaço para o aumento de salários aos servidores e militares. Mas a possibilidade do fracasso eleitoral é cada vez maior, o que tem feito o presidente redobrar as ameaças de golpe como temos denunciado nesta coluna. Mesmo no exterior, durante a Cúpula das Américas, não faltaram as insinuações contra os resultados eleitorais.
Efetivamente, não há economia que resista a um presidente que comete crimes todos os dias, com a conivência de um parlamento corrupto, o silêncio de um engavetador geral da República inoperante, o apoio de uma classe empresarial reacionária e a cobertura de forças armadas desinformadas e conservadoras.