Entrevista: Joaquim Soriano, secretário de Assuntos Institucionais do PT nacional: “um PT inteiro pode muito, meio PT pode quase nada”
A divisão do PT paraibano tem tomado proporções maiores nos últimos anos. Há diferentes correntes internas e isso, em certa medida, escancara a vida que pulsa na legenda. Por outro lado, sinaliza para algo que pode ser um problema: a falta de entendimento entre os filiados de Diretórios Municipal e Estadual tem feito do PT uma arena. Tanto que neste sábado (27) houve eventos simultâneos de diferentes blocos na capital. Um deles contou com a presença de Joaquim Soriano, secretário de Assuntos Institucionais do PT nacional, para o lançaçamento da corrente ‘Democracia Socialista’. Antes da palestra sobre “O governo Lula, as mudanças que o Brasil precisa e o papel do PT”, Soriano conversou, com exclusividade, com o Poítica por Elas. Confira:
PPE – Como vc enxerga essa estratificação dentro do PT? Se o foco é o fortalecimento do partido, como se gerencia essa crise?
Soriano – Obrigadao pela atenção. Sobre a questão da intervenção das eleições municipais, isso ocorre, e rigorosamente é algo que não é bom pra ninguém no PT. Eu costumo dizer assim: um PT inteiro pode muito, meio PT pode quase nada. Então, tivemos uma diferença importante entre membros do PT em João Pessoa sobre a tática eleitoral, e num um processo muito doloroso de averigração do ocorrido, com um desfecho… Bom, mas ele ficou no passado, né? Eu creio que depois da vitória eleitoral do presidente Lula no ano passado, abre-se agora um período importante de preparação das pr-campanhas, tanto majoritárias quanto proporcionais na eleição municipal do ano que vem, que é um momento muito importante não só do ponto de vista da disputa local, mas do ponto de vista da repercussão nacional porque normalmente a eleição municipal no meio do mandato do presidente pode indicar algum retorno de aprovação, de crescimento das forças de sustentação do governo. Então eu espero, fortemente, que aqui em João Pessoa e em todos os lugares, o PT, a nossa federação, a coligação progressista possa obter resultados muito significativos para melhorar a vida do povo em cada um desses municípios e para aumetnar a capilaridade do apoio ao governo do presidente Lula.
PPE – Que avaliação você faz do governo Lula até aqui?
Soriano – A Vitória do presidente Lula na eleição presidencial foi algo da maior relevância, da maior envergadura, não só pelo significado de ele retornar ao governo depois da perseguição injusta, da prisão inominável, da disputa que foi a própria eleição, que não foi uma disputa entre duas candidaturas, foi uma disputa entre uma coalizão democrática e o estado brasileiro porque o antigo presidente e candidato à releição usou e abusou dos recursos públicos para conseguir a sua reeleição, o que seria um desastre absoluto. Quando esses facistas, protofacistas se reelegem, acreditam ter mais legitimidade pra implementar o seu programa de destruição. Então a vitória do Lula é uma vitória popular, é uma vitória com programa popular e é uma vitória fundamentalmente pelo apoio das camadas trabalhadoras mais sofridas do nosso povo. No entanto, ainda há a presença, na sociedade e nas instituições, de uma direita muito vinculada às teses obscurantistas que tentaram ser majoritárias no passado, né? E a presença nas instituições, na Câmara dos Deputados e no Senado ainda é uma presença forte, não só da direita bolsonarista, como da direita que não gosta, não compartilha com as ideias do programa que elegeu o presidente Lula, ou seja, tem uma direita bolsonarista e tem uma direita nneoliberal que tenta impedir o desenvolvimento do governo, do nosso programa. Recentemente, inclusive, a Câmara dos Deputados tentou alterar a organograma do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério das Terras Indígenas. O ministro Flávio Dino lembrou que isso é uma atribuição do Executivo e o presidente Lula disse que a batalha continua porque tem ainda um longo processo, outros tempos de disputa dentro da Câmara, dentro do Senado. Ainda tem esse grande antagonismo para democracia e para soberania popular que é essa independência do Banco Central. Uma política tão importante quanto a política monetária não é atribuição da soberania popular através do mandato do presidente Lula, né? Tem essa essa coisa que o Banco Central não se coduna com a política geral do nosso governo.
PPE – O governo não tem base ampla e tem perdido embates importantes no Congresso. O desmonte dos Ministério do Meio Ambiente e do Ministério dos Povos Indígenas que o senhor cita é mostra de que o Centrão está disposto a desidratar pautas de relevância para o país. Lula disse que o caminho é pela política. Pergunto: esse caminho é o da negociação “tete-a-tete'”?
Soriano – Eu interpreto, quando o presidente Lula diz que o caminho é a política, é fazer uma crítica ao período passado do governo autoritário fascista, protofacista do seu antecessor, que não tinha o caminho da política, do debate, do convencimento, da negociação no bom sentido. Então o caminho da política é demonstrar e ganhar uma maioria na sociedade e nas instituições a favor do programa, da plataforma que foi eleita, dentre os pontos mais significativos foi a criação do Ministério das Terras Indígenas e da recriação do Ministério do Meio Ambiente, com as atribuições devidas e necessárias, ademais com todo o simbolismo que tem para os setores democráticos e progressistas no Brasil e em todo mundo, né? Então isso é uma grande batalha que nós precisamos vencer.