Opinião

O que tirar do primeiro debate com presidenciáveis

O primeiro debate presidencial das eleições promovido pela Band neste domingo (28) foi enfadonho, o que se explica, em boa medida, pela quantidade razoável de candidatos em um tempo apertado.

O formato não ajudou. Os candidatos também não, com poucas exceções. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entrou e permaneceu morno, com alguma reação no fim. Apático, nem de longe se pareceu com o Lula vibrante do Jornal Nacional, aquele que dialogou com eleitores fora da bolha petista. Lula não aproveitou a vitrine. Não perdeu, mas também não ganhou. Estratégia mal calibrada.

Jair Bolsonaro (PT), começou bem, ganhou segurança fazendo o que sabe fazer: manipulando dados e falando para uma militância radicalizada com foco na corrupção no governo petista. É samba de uma nota só. Mas, pra variar, acabou se enganchando nas próprias pernas. Avesso à crítica e incapaz de reconhecer os atropelos de seu governo na gestão da pandemia, descontrolou-se e atacou de maneira leviana e arbitrária tanto a Simone Tebet como a jornalista Vera Magalhães, e perdeu a oportunidade de ampliar o apoio feminino à sua candidatura.

Ciro Gomes, do PDT, foi Ciro Gomes. Teve oportunidade de sair em defesa das mulheres após o machismo e a misoginia de Bolsonaro contra Vera Magalhães. Não o fez. Preferiu atirar no Lula e Bolsonaro. Acusou sem provas, insistiu em um discurso tecnocrata, mas foi firme, trouxe propostas e manteve postura que agrada parte dos eleitores antilulistas e antibolsonaristas.

Felipe Dávila, do Novo, não trouxe ideias novas. Defendeu privatizações a ferro e fogo. Soraya Thronicke (União), ex-base bolsonarista, se desgarrou do governo na CPI da Covid. Também do curral dos ultraliberais, adotou postura crítica, pesou nas expressões carrancudas e errou na bandeira. Falar de impostos não tem lá essa aceitação toda.

O destaque do debate foi a emedebista Simone Tebet. Foi segura e serena. Trouxe informações com consistência. Não se intimidou com ataques de Bolsonaro, mirou nele e o desequilibrou. Tebet saiu do debate muito maior do que entrou. As redes sociais refletiram isso. Dados da plataforma Crowdtangle mostram que ela ganhou 60,6 mil seguidores da meia-noite até as primeiras horas da manhã desta segunda-feira (29), passando Bolsonaro (50,7 mil), Lula (44,2 mil), Ciro Gomes (27,7), Felipe D’Ávila (17,3) e Soraya Thronicke (13,3 mil). O desafio é converter seguidor em eleitor.

Pós-debate o que se conclui é que, com condições iguais de tempo e tratamento, pela experiência, Ciro e Tebet conseguem se destacar. Se tal desempenho será capaz de dar à chamada terceira via um fôlego que esta ainda não teve, interferindo na disputa, aí já são outros quinhentos. Mas o debate cumpriu seu papel, contribuindo para a consolidação da imagem dos dois. Os próximos enfrentamentos serão termômetro. É esperar pra conferir.