João é Lula. E Lula, é João?

João Azevêdo (PSB) e Lula (PT) se encontraram em Brasília em um Congresso dos Socialistas. Reservadamente, trataram de eleições. João disputa o apoio de Lula assim como outros pré-candidatos ao governo da Paraíba. A saber: Veneziano Vital do Rêgo (MDB), aliado do PT no estado, e Lígia Feliciano (PDT), que mesmo tendo seu nome vetado pelo partido, não se retirou da disputa.

João deu um passo atrasado mas importante na direção de Lula. Lula, por sua vez, conta hoje com um cenário de possibilidades na Paraíba: pode optar por mais de um palanque e não pisar aqui no 1º turno; pode ter mais de um palanque e juntá-los ainda no 1º turno; pode unificar um palanque dele, com todos na mesma chapa.

Um palanque duplo ou triplo por aqui não seria dificuldade pra Lula visto que não há forças progressistas e conservadoras, como no caso do Rio de Janeiro, em disputa por ele. Em 2006, por exemplo, Lula subiu em dois palanques em Pernambuco, os de Eduardo Campos (PSB) e Humberto Costa (PT). A dificuldade deriva dos melindres locais que envolvem o atual governador e o petista Ricardo Coutinho, ex-aliado de João e articulador da aliança entre PT-MDB, para formar um palanque único.

E se Lula forçar a barra nesta direção? Bem, nesse caso, alguém teria que desistir da cabeça de chapa. Vamos aos fatos: o candidato do PSB tem a máquina na mão, tem capilaridade em diversas municípios e é bem avaliado nas pesquisas. Seu principal adversário do campo da esquerda, Veneziano Vital do Rêgo (aposta de Ricardo), não tem a máquina e não é unanimidade dentro do próprio partido. Além de tudo isso, há questões fora da Paraíba que interferem no jogo local. O candidato do PSB em Pernambuco, Danilo Cabral, está em quarto lugar nas pesquisas. Faz sentido o PSB brigar para manter o comando do Executivo paraibano e negociar isso com Lula que, ao que tudo indica, terá Geraldo Alckmin como vice.

Em sendo João o candidato de Lula, onde ficaria Veneziano? Indicaria a mulher, Ana Cláudia Vital (Podemos) ou até a mãe, a senadora Nilda Gondim, para vice? Qual seria o espaço que caberia a Ricardo uma vez que ele ainda enfrenta problemas judiciais? Aguinaldo Ribeiro (PP) teria lugar nessa configuração? Seria jogado ao mar por João ou o compromisso de João com ele é maior que projeto de reeleição, cujo apoio de Lula é fundamental? É preciso dizer que até agora Aguinaldo não se posicionou quanto à disputa ao Senado e tudo permanece no campo das especulações.

Em sendo Veneziano o candidato de Lula, a maré muda para João? Ele irá desistir? Improvável para não dizer impossível. Na incerteza, se apega ao Progressistas de Aguinaldo Ribeiro e Cícero Lucena, ambos com expressiva densidade eleitoral, um na capital, o outro no interior.

Fato novo

Há sinais da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, de que o Partido dos Trabalhadores está com o emedebista. É sabido que, desde 89, quando Lula disputou a primeira campanha para presidente, o PT não elegeu um governador na Paraíba fora João Azevêdo, em 2018. Os tempos são outros, a situação é outra. Em caso de extrema polarização no país e em período agudo de crise e recessão democrática, o apoio de Lula a quem quer que seja fará a diferença e pode ser determinante na eleição. Veneziano terá um trunfo e tanto já que Lula conta com 60% de votos na Paraíba.

A bola está com Lula

Como se vê, por mais que antecipem o tempo das coisas, as definições nas bandas de cá estão atreladas ao ex-presidente Lula. É ele quem vai apitar o jogo e decidir essa parada. A tirar pelas últimas costuras, a regra será o pragmatismo. Veremos.