Raios e tempestades entre o STF e as Forças Armadas
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso afirmou neste domingo (24), durante o “Brazil Summit Europe 2022”, evento realizado por uma universidade da Alemanha, que as Forças Armadas têm sido “orientadas” a atacar o processo eleitoral. Barroso voltou a defender a integridade das urnas eletrônicas.
“Ataques totalmente infundados e fraudulentos ao processo eleitoral. Desde 1996 não tem nenhum episódio de fraude. Eleições totalmente limpas, seguras. E agora se vai pretender usar as Forças Armadas para atacar. Gentilmente convidadas para participar do processo, estão sendo orientadas para atacar o processo e tentar desacreditá-lo”, afirmou Barroso.
E ele continuou, com outro tapa…
“É preciso ter atenção a esse retrocesso cucaracha de voltar à tradição latino-americana de colocar Exército envolvido com política. Esse é um risco real para a democracia.”
E um beijo…
“E aqui gostaria de dizer que, eu que fui um crítico severo do regime militar, militante contra a ditadura, nesses 33 anos de democracia, se teve uma instituição de onde não veio notícia ruim foi das Forças Armadas. Gosto de trabalhar com fatos e de fazer justiça”, arrematou.
A declaração mais amena em parte do discurso não amenizou o clima, nem brecou a reação do ministro da Defesa, General Paulo Sérgio Oliveira, no cargo há menos de um mês. Ele considerou a fala de Barroso uma ‘ofensa grave’:
“Afirmar que as Forças Armadas foram orientadas a atacar o sistema eleitoral, ainda mais sem a apresentação de qualquer prova ou evidência de quem orientou ou como isso aconteceu, é irresponsável e constitui-se em ofensa grave a essas instituições nacionais permanentes do Estado brasileiro. Além disso, afeta a ética, a harmonia e o respeito entre as instituições”, disse em nota.
Clima fechado entre STF e Forças Armadas é resultado de um processo de corrosão da democracia, fiado pelo Executivo. Há uma tentativa clara de minar a confiança dos eleitores quanto ao processo eleitoral, talvez para justificar uma possível derrota nas urnas. É sabido que há militares no apoio ao projeto bolsonarista. Não significa que a Instituição apoie um suposto golpe. Ou será que não? Aliás, em normalidade democrática esta dúvida nem existiria, não é mesmo?