Araruna, no Curimataú paraibano, investe em Plano estratégico para alavancar turismo
No alto da serra, a 600 metros acima do nível do mar e a 165 quilômetros de João Pessoa, o município de Araruna se destaca na região do semiárido paraibano pelo clima ameno e formações rochosas que dão um charme único ao lugar. A Pedra da Boca, no Parque Estadual Pedra da Boca, é um dos mais importantes patrimônios geológicos da Paraíba e atrai turistas de todo o mundo. Gente que não abre mão de uma boa caminhada pelas trilhas, de fazer escalada, rapel e até voo livre. Sim, pra quem gosta de aventura, Araruna é o lugar.
“Nós somos recordista mundial de asa-delta e parapente. Os melhores pilotos do mundo hoje vêm à Araruna, ficam 30 dias de setembro a outubro. O recorde mundial de asa-delta é de 612 km; de parapente, 564 km. Não é brinquedo você decolar aqui nas rampas naturais de Araruna, cortar uma parte da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará e pousar em Santa Quitéria, depois de Quixadá. São 11 horas de voo levado pelas correntes de ar quente do sertão. Tudo isso é turismo. Nosso forte é turismo de aventura”, afirma o secretário de Turismo do município e empresário do segmento, Edvaldo Costa.
Para os menos radicais, a cidade oferece passeios por 16 sítios arqueológicos catalogados, pelas Pedras da Macambira e do Chapéu, do Coelho, da Caveira e do Letreiro. Outra opção são cânions do Macapá e da Serra Verde com seus vales de mais de 350 metros de profundidade. Espaço ainda para o turismo religioso. Na Pedra da Boca há um Santuário inaugurado em 2010 para os devotos de Nossa Senha de Fátima.
Já na cidade, destaque para a Igrejinha de Santo Antônio, um marco da urbanização da cidade, e a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, ambas tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP). A dois quilômetros do centro, mais uma das surpresas que o município reserva. A vegetação e as ruínas da Fazenda Maquiné, com origem no século XIX, são um convite à contemplação e a um passado que resiste nas paredes da Casa Grande e na capela dedicada a Nossa Senhora do Bom Socorro e São Francisco de Assis.
Com uma população de pouco mais de 20 mil habitantes (IBGE), o turismo é uma das apostas do município para movimentar a economia. A geografia acidentada ajuda nessa dinâmica, mas há toda uma infraestrutura que dá suporte aos visitantes, desde as instalações de pousadas e hotéis aos restaurantes que proporcionam verdadeiras experiências gastronômicas.
Infraestrutura
Araruna tem no comércio uma de suas principais fontes de renda. Levantamento feito pelo município mostra que 27% das riquezas locais são produzidas pelo setor que conta com 665 pequenos negócios, boa parte impulsionada pelo turismo. No segmento de hotelaria, o município conta, por exemplo, com 12 pousadas e hotéis de pequeno e médio porte, que juntos somam quase 400 leitos de acordo com a secretaria de Turismo.
Araruna também conta com oito restaurantes. Tereza Cristina é uma das empreendedoras da Cidade. Há sete anos fundou o Nêga Joana e expandiu os negócios quatro anos depois, criando também uma pousada fazenda. Fez da paixão pela culinária um estilo de vida. Hoje emprega 12 pessoas e faz questão de produzir boa parte do que serve aos clientes. Revela com orgulho que plantou 153 pés de fruta no sítio: “tudo sem agrotóxico”, lembra. O cardápio regional é caprichado e inclui um doce de leite na castanha, carro-chefe da casa: “o que me motiva é a paixão de receber pessoas, eu amo o que faço. Meu lema é: faça da minha casa a extensão da sua”, diz emocionada.
Vanessa Gurgel é outra empresária que investiu em gastronomia e hotelaria. Ela e o marido abriram o Rancho Trevo durante a pandemia da covid-19. O estabelecimento fica entre Araruna e a Serra de São Bento no Rio Grande do Norte e é um charme, todo decorado com artesanato local. Há cinco chalés (até o fim do ano serão mais 12) e passeio a cavalo: “a proposta da pousada é que o pessoal venha pra cá pra curtir o ambiente, buscar paz e sair do estresse da cidade”, destaca. No restaurante, cardápio fechado e sob reserva: a gente tem desde a galinha caipira até a lagosta, o carré de cordeiro. Tem de tudo, pra todos os gostos e bolsos”, destaca.
Os empreendimentos de Vanessa e Tereza ficam um pouco mais afastados da cidade. Há também opções para quem quer ficar na área central, a exemplo do Araruna Hotel, com quartos amplos e café da manhã completo. Os donos investiram ainda em uma cafeteria, a Adega Bistrô Café, ponto de encontro para quem ama vinhos e um ambiente sofisticado.
Ruth Avelino, presidente da Empresa Paraibana de Turismo (PBTur), explica que toda essa estrutura tem sido fundamental para a divulgação do roteiro Araruna por parte da PBTur: “não adianta ter apenas uma cachoeira, um conjunto de pedras ou uma praia legal. É preciso ter isso e uma infraestrutura: acesso bacana, um pousada, um restaurante, um lugar que o turista possa se alimentar com segurança. Tudo isso Araruna tem e é isso que a gente sempre faz, a gente estimula o paraibano a vir pra cá, os nordestinos, os brasileiros e até os estrangeiros. O papel da PBTur é justamente promover o destino Paraíba. Desde que a gente assumiu em 2011 a presidência, nosso slogan é ‘Paraíba muito mais que sol e mar’ porque a gente quer mostrar que nós temos um litoral lindo, 130 km de praias maravilhosas, mas nós temos um Cariri, um Curimataú, um Sertão, um Agreste, um Seridó muito lindos”, afirma Ruth.
Plano Estratégico de Turismo
Para fomentar ainda mais o turismo local e alavancar a economia da região, a prefeitura de Araruna lançou no último fim de semana (26) o Plano Estratégico de Turismo, com apoio do Sebrae e com direito a menu degustação de restaurantes locais, feira de artesanato e apresentações artísticas.
O prefeito Vital Costa esclarece que o “objetivo é colocar mecanismos, meios e caminhos para consolidar tudo que Araruna dispõe de belezas naturais, da sua história, dos seus cânions, da Pedra da Boca”. Ele defende a interiorização do turismo e ações integradas dos municípios para criar uma rota regional capaz de atrair visitantes durante todo o ano: “turismo é a união de todos, a conscientização de que todos ganham quando a cidade está bem porque vai fazer aflorar o potencial do cidadão que faz o crochê, da pessoa que faz a cachaça, que faz o picolé, que vai vender água de coco. Se integrarmos essa rede, se firmarmos esse sentimento, ninguém segura nossa cidade”, garante. A ideia, acrescenta Vital Costa, é fazer de Araruna a “Capital do Turismo de Aventura: “a gestão está fazendo sua parte com planejamento e infraestrutura”.
O Plano nasceu de muito debate com toda a cidade. É o que afirmou o secretário de Turismo: “a pandemia atrapalhou, mas a cidade avançou muito nesses últimos anos porque o prefeito Vital Costa entendeu a importância de investir no turismo. Foi feito todo um trabalho para que a gente pudesse reunir classe empresarial, gestão, comunidade, as associações, e discutir esse tema. Foi feito um trabalho de quase 60 dias com participação de todo o trade turístico, das pessoas que foram pontuando, dizendo o que era necessário, onde a gente podia avançar, o que era urgência, o que podia deixar pra depois. Então foi feita toda uma estratégia em todos os setores para que a gente pudesse traçar metas e objetivos para implantar nos próximos meses, nos próximos anos”, diz Edvaldo Costa.
Ruth Avelino destaca que investir em política pública para aquecer turismo e economia de forma sustentável é uma iniciativa que só traz benefícios. Nesse sentido, Araruna sai na frente de municípios maiores, segundo, o que “mostra que a gestão desse município está preocupada com o desenvolvimento do turismo planejado, organizado e sustentável. Sustentável porque o mais importante é não ter só um movimento em um período do ano, mas manter o ano todo, segurando a onda, mantendo uma ocupação bacana nas pousadas, nos hotéis, nos bares e restaurantes, os parceiros turísticos, todas as atividades que acontecem em Araruna. É um ponto muito importante que precisa ser aplaudido porque nem todo gestor tem essa visão”, conclui..
A gestão quer fazer com que Araruna seja reconhecida no estado, no país e até fora dele como a “capital do turismo paraibano”. Ao que tudo indica, está no caminho certo.