Opinião

Como o PT ficaria sem Ricardo e sem João?

“A gente colhe aquilo que planta”, para quem gosta de ditados populares, este diz que o presente é sempre resultado de um passado, seja próximo ou distante. Os dilemas do PT da Paraíba indicam bem isso. Política é construção de longo prazo, é saber marcar posição, é acúmulo de força. Porém, desde 2002, o partido de Lula na Paraíba não disputa o governo do estado. Naquele ano, chegou a 12,57% com a candidatura do ex-deputado (e ex-petista) Avenzoar Arruda. Na capital, a candidatura de Avenzoar chegou a casa dos 27%.

Desde então, o PT optou por não disputar os rumos da política da Paraíba. Ora o pretexto era o tal “projeto nacional”, para fortalecer os palanques de Lula e Dilma. Ora, era porque tinha o entendimento de que sem forças, seria melhor procurar alianças. Mas, como passar a ter forças sem disputar? Time que não joga, não tem torcida. O fato é que quem tem menos de 30 anos de idade nunca viu o PT disputar o Palácio da Redenção. Para piorar, nas duas últimas décadas o partido só veio encolhendo. Decidiu ser mais um partido de renovação de mandatos parlamentares. Decidiu deixar de ser uma alternativa política para o governo da Paraíba. Porém, mesmo nesta lógica, não tem tido êxito: chegou a eleger quatro deputados estaduais e saiu das urnas em 2018 sem nenhum! Anísio Maia só foi alçado a condição de titular com a morte precoce de Genival Matias, em 2020. Já chegou governar cinco municípios e hoje tem apenas um prefeito. A força institucional de partidos de esquerda está diretamente relacionada à sua força social. Ao deixar de ser um partido combativo para ser um partido eleitoral, o PT também veio deixando de ser uma força eleitoral.

O PT paraibano não poderá viver para sempre do projeto nacional. Aliás, o tal “projeto nacional” também existe para o partido nos demais estados da região Nordeste e o efeito comparativo é ainda mais desanimador: os quatro únicos governadores petistas do país são nordestinos e nos outros quatro estados (executando-se o nosso), o PT conservou sua influência na pauta politica local e dispõe de quadros competitivos para disputas.

Falando nisso, se antes o PT, por sua orgânica ligação com os movimentos sociais e sindicatos, era um verdadeiro celeiro de novos nomes, hoje já não forma novos quadros. Os dilemas do PT são também de toda esquerda paraibana. Não há partido à sua esquerda com a mesma simbologia e capilaridade. Ou seja, os petistas jogam um papel importante na chamada correlação de forças na política local. Como disse recentemente a presidenta nacional Gleisi Hoffmann, partido político precisa fazer balanço e o balanço dos últimos 20 anos do PT no estado indica que suas escolhas não o fortaleceram e, considerando seu papel histórico, isso é ruim para nossa democracia.

O partido que antes já foi base do PMDB na disputa com o PSDB, agora se divide entre João Azevedo e Ricardo Coutinho. Não está claro para a opinião pública os termos desta divergências internas. Quais as diferenças ideológicas entre Coutinho e Azevêdo? Quais os aliados que João tem hoje que também já não foram aliados de Ricardo? Se o PT votou em João em 2018, Ricardo também. Se Ricardo permanecerá no PT é algo a conferir após os resultados eleitorais de 2022. Mas, se João consolidar uma aproximação com a direita, como o PT ficará? Aliás, como o PT ficará sem Ricardo e sem João?