Recuo estratégico
O desfile militar ocorrido no dia da votação da PEC do voto impresso tinha o intuito de intimidar os parlamentares. O presidente Jair Bolsonaro queria demonstrar força na sua escalada golpista. O efeito foi inverso. Mesmo obtendo a maioria dos votos (229 X 218), o governo não alcançou o mínimo necessário. Foi derrotado. Teremos urnas eletrônicas no próximo ano. Mas teremos respeito ao resultado da eleição?
O desfile foi uma lástima. As sucatas fumacentas revelaram a fragilidade dos equipamentos bélicos das Forças Armadas brasileiras. Os militares, ansiosos para voltarem a ter o papel de protagonistas, participaram de um espetáculo ridículo na tentativa de atemorizar o Congresso Nacional. O vexame foi internacional.
O sucateamento dos armamentos existentes é notório. O material bélico que o Brasil possui, geralmente descartado pelos Estados Unidos, é obsoleto. Não aguentaria uma semana de fogo real numa guerra convencional.
Os exércitos latino-americanos são muito frágeis para enfrentar uma guerra com uma potência. Basta recordar a Guerra das Malvinas, ocorrida em 1982. Em pouco mais de dois meses de combate, as forças britânicas destroçaram o despreparado exercito argentino.
Mas não tenhamos ilusões. Os exércitos da América Latina são muito eficazes em dar golpes militares, estabelecer a censura, reprimir manifestações, prender estudantes, torturar intelectuais e “desaparecer” com os opositores.
Em 1964, os militares deram um golpe de Estado no Brasil e ficaram 21 anos no poder. Em 1968, foi a vez do Peru. Em 1973, foram os golpes no Chile e no Uruguai. Em 1976, ocorreu o golpe na Argentina. Para derrubar regimes democráticos não precisaram de armamentos sofisticados. As sobras de fuzis, tanques e jipes da II Guerra mundial, vendidos pelo governo norte-americano, foram suficientes.
Bolsonaro não abandonou seu desejo de perpetuar-se no poder mediante um golpe. Não houve desistência, mas sim um recuo estratégico. Continuará sua cruzada contra o voto eletrônico. Ele sabe que, mantido o atual sistema de votação, que evita a fraude, corre sério risco de perder a eleição no próximo ano.