Os erros fatais de Bolsonaro

A política é semelhante à guerra: vence quem erra menos. No caso de Bolsonaro, além de ter sido um péssimo militar, demonstrou também ser um execrável governante e um pífio estrategista. Não é à toa que, de todos os presidentes que tentaram a reeleição (FHC, Lula e Dilma), ele foi o único que perdeu.

O primeiro erro de Bolsonaro foi não pertencer organicamente a um partido político consolidado nacionalmente. Os dois presidentes pós-ditadura militar que mais tiveram estabilidade governamental foram Fernando Henrique (PSDB, 1997-2002) e Lula (PT, 2003-2010), fundadores e estrelas máximas dos seus respectivos partidos. Quanto a Bolsonaro, ele sempre foi “hospedeiro” de diversos partidos de direita, sem criar laços profundos com qualquer agremiação.

O segundo erro consistiu no seu profundo desprezo pelas instituições democráticas. Durante todo o seu desastrado mandato, Bolsonaro achincalhou a justiça brasileira e criticou o sistema eleitoral, reconhecido mundialmente por sua agilidade, transparência e confiabilidade.

O terceiro erro foi sua postura durante a pandemia da Covid-19. O desprezo pela ciência, o atraso na compra de vacinas e o deboche diante de centenas de milhares de mortos chamuscaram definitivamente sua imagem perante a opinião pública. Muitos faleceram por seguirem as suas equivocadas recomendações para não usarem máscaras nem tomarem a vacina.

O quarto erro está relacionado diretamente com a questão social. A sua política econômica ultraliberal favoreceu os mais ricos e lançou milhões de brasileiros na miséria. De todos os governos nos últimos trinta anos, apenas Bolsonaro manteve o aumento do salário mínimo abaixo da inflação. Mesmo abrindo os cofres no período eleitoral não conseguiu apoio da maioria dos mais pobres, os mesmos que decidem uma eleição. A população mais carente percebeu seu embuste.

Bolsonaro não está morto politicamente. Seus erros formam seu capital político. Basta olhar a quantidade de votos que ele obteve no 2º turno e acompanhar seus apoiadores mais radicais marchando e cantando nas portas dos quartéis.

Mas, para voltar a ocupar o proscênio da vida política, Bolsonaro precisa livrar-se dos processos judiciais que virão e construir um partido de extrema-direita a sua imagem e semelhança. Do contrário, se perderá no limbo da história.