O candidato motosserra
A Argentina é um dos países mais fascinantes da América Latina. Gerou Jorge Luiz Borges, um dos maiores ficcionistas da literatura mundial, Ernesto “Che” Guevara, o mais admirado revolucionário de todos os tempos e Juan Perón, o maior símbolo do populismo do século XX.
Neste domingo, os argentinos podem vir a eleger como presidente o mais histriônico de todos os políticos de extrema direita que pululam nas Américas: Javier Milei. Comparados com ele, Jair Bolsonaro e Donald Trump podem ser encarados como figuras moderadas e equilibradas.
Javier Milei, que lidera todas as pesquisas, ganhou o apreço dos seus eleitores aparecendo em manifestações empunhando uma motosserra, daquelas utilizadas para derrubar as árvores. Em pronunciamentos, Milei promete “cortar” os gastos governamentais e controlar a inflação, que bateu o recorde de 140% no último ano.
Candidato de extrema direita, Milei ganhou os corações dos mais jovens, que perfazem a maioria dos seus apoiadores, afirmando que o papa Francisco é “um asqueroso comunista” e que a moeda argentina não deveria valer “nem excremento”. Suas propostas beiram a insanidade. Legalização da venda de órgãos humanos, fim dos ministérios da cultura e meio ambiente, fim do Banco Central e o rompimento econômico com o Brasil e a China são algumas delas.
Javier Milei corre sério risco de ganhar a eleição já no primeiro turno. Suas frases agressivas e suas propostas mirabolantes empolgam todos aqueles que sentem uma profunda repulsa pela elite política que vem controlando o país nos últimos 40 anos.
O voto em Milei não é um mero voto de protesto. É um grito de desespero diante do fracasso econômico e social dos governos da direita tradicional e da esquerda peronista que se revezam no poder desde o fim da ditadura militar, em 1985. Eles são, inegavelmente, responsáveis pelo aprofundamento da pobreza na Argentina.