Menos julgamento e mais acolhimento, por favor!

A cama vira um imã. Vontade de ficar mais tempo. Só mais um pouco. Sem luz. Cortinas fechadas. A cabeça começa a lembrar de compromissos que precisam ser cumpridos.

Mais um pouco. Só uns cinco minutos a mais. Ainda são oito horas. O sono não é gostoso. É um sono lerdo, meio de quem está doente. Olha o relógio novamente. Já são dez horas. Num piscar de olhos foram duas horas! A coluna reclama. Dores por toda parte. Muito tempo deitada. Não há mais posição confortável. É só um estado de postergação.

Hora do almoço. Alguém diz: “você precisa comer!”
Você pensa: “pra quê?”
E com uma tonelada em cada perna se levanta com aquele sentimento de culpa de que já perdeu a metade do dia sem produzir absolutamente nada!
Vozes, vozes, vozes.

“Acabou desinfetante”, “A farda do menino está molhada”, “quem vai me levar na aula de inglês?”, “ lembrou de pagar o boleto do IPVA?”, “tem agenda hoje?”

Daí, você olha para o celular. E você tem medo de abrir as 34638375382928 mensagens que estão ali.

“Estou te esperando, já está a caminho?” (Vc não tomou nem banho).
“Reunião com cliente”, “lembra que hoje tenho dentista, você disse que iria comigo”, “não veio mais aqui em casa!” (A mãe, sendo que você foi lá há dois dias), “ videoconferência em meia hora”, “aniversário de fulana”, “evento às 15h”, “entrevista sobre feminicídio” (coisa leve)”, e outros 2648383726893368 grupos que nunca abre, mas que certamente deve haver algo importante por lá (ou não).

Vontade de desativar. Mente fica cinza. Não cabe mais nada dentro de você. Mas as pessoas dizem: você pode tudo! Somos geração da “lua de cristal”, lembra?
Xuxa e o seu “tudo pode ser, só basta acreditar.” Daí crescemos e vimos que não é exatamente assim.

Tem umas limitações emocionais quase palpáveis, invisíveis, mas fortes o bastante para nos paralisar por inteiro. Pode tentar. Você até vai. Você vai com seu corpo, mas não vai assimilar nada daquilo que está acontecendo ali.

Mas e a sua fé? Alguém pergunta. Impossível um cristão ter problemas emocionais. É só determinar com fé e não aceitar isso! Pensa, pensa, pensa…

Positividade, pensamento positivo, e como em um decrescente espiral, tudo só piora. Você quer matar aquela moça magra e sorridente que fala “GRATIDÃO”. A tal positividade tóxica.

Vamos quebrar um bezerro de ouro aqui?
Sim, você pode crer em Deus e você pode ter depressão. Você pode ser cristão e você pode ter depressão. E não! Não é só determinar que você não terá depressão que você deixará de tê-la.

Isso não significa que você é menos filho de Deus, que você não tem fé, que você não conhece o Espírito Santo. Numa certa feita, uma amiga que é psiquiatra me falou:
“Pode um maratonista correr com a perna quebrada? Ele vai precisar cuidar da perna. Do mesmo modo, alguém que trabalha com a mente e que está com ela adoecida, precisa cuidar dela.”

Uau! Quantas fichas caíram!

E ela seguiu:
“Se ele correr com a perna quebrada, vai piorar. Assim como se a pessoa que não está bem emocionalmente forçar para produzir também irá piorar.”

Entendi que é preciso se conhecer e perceber a hora de parar e tudo certo com isso.
Religião mata pessoas todos os dias. Fingir que está bem forçando a máquina mental quando tudo está mal mata a milhares de almas.

Igrejas estão cheias de zumbis, emocionalmente doentes, proibidos de falar que estão doentes, sob pena de serem tidas como pessoas que são perturbadas, endemoniadas, até!

Jesus tratou. Cuidou da alma das pessoas. Libertou. Curou feridas internas e externas. Essa reflexão se faz muito pertinente nesse período do ano.

Quando servimos em uma congregação cristã servimos em amor ou em julgamento? O que Jesus faria se alguém dissesse que estava sem coragem para trabalhar, para levantar da cama, para produzir? Ele diria: isso é coisa do demônio! Se esforce e levante!” Ou diria: “vem, eu te ajudo!”?

Onde estiver o acolhimento e o amor, ali estará o Espírito do Senhor! Não julgue, ajude!