Bolsonaro em desespero e guerra no horizonte

Na semana passada falamos sobre a inflação e mostramos dados que comprovam como ela prejudica os trabalhadores e particularmente os mais pobres. O problema é tão sério, não só internamente como em todo o mundo, que existe uma mobilização internacional para encontrar uma saída capaz de conter o processo. Entre nós, o BC já jogou a toalha e não mais fala em data para iniciar os esforços para a convergência para a meta. No ano passado o presidente do BC foi obrigado a escrever a carta institucional, a que é obrigado, explicando o fracasso por não ter conseguido cumprir sua função fundamental de estabilização da moeda, mantendo a inflação dentro dos limites estabelecidos. Este ano já é garantido que terá de escrever outra carta e no próximo ano provavelmente. Já que não se consegue manter a inflação na meta, a solução apresentada é mudar a meta. Assim, foi feito o pedido de socorro ao Conselho Monetário Nacional, o pomposo CMN, conselho que é constituído por uma Troika formada pelo sinistro Paulo Guedes, seu cupincha secretário especial do tesouro e orçamento, Esteves Colnago, e o próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, que, como o nome indica, é neto do velho e conhecido Bob Field, dos tempos da ditadura.

O CMN não deu uma grande ajuda pois decidiu, para este ano, manter a taxa Selic em 3% com um intervalo de tolerância de 1,5%, para mais ou para menos. Para 2023 a taxa foi estabelecida em 3,25%. Em 2024 e 2025, a previsão é 3% mantendo-se o intervalo de tolerância de 1,5% nos três casos. Em 2023, considerando-se o intervalo de tolerância, a inflação deveria oscilar entre 1,75% e 4,75%. O BC já declarou que ele perseguirá a meta de 4%, ou seja, começara trabalhando acima do centro da meta, ignorando sua existência. Para atingir estes objetivos o BC anunciou que continuará elevando os juros, que subirão dos 13,25% atuais para 13,5% ou mesmo 13,75%. Ora, todos sabemos que taxas de juros elevadas entravam ou dificultam o crescimento ao desestimular os investimentos e o consumo, o que leva a desaceleração da economia, que já se arrasta com as dificuldades internas e externas. Teremos mais dificuldades ainda.

A situação não é confortável para a campanha de reeleição do presidente. A inflação já foi identificada como o grande problema a ser superado e ela é puxada pelos combustíveis e alimentos. Todos os esforços voltam-se nesta direção. A Petrobrás passa assim para o centro dos debates. Não é por outra razão que os presidentes da empresa são indicados e demitidos sucessivamente. Ninguém sabe como controlar os preços dos combustíveis sem violar a política de preços da empresa que se baseia na paridade com os preços internacionais. O caminho que está sendo tentado é o da criação de subsídios ao consumo ou da redução dos impostos que incidem sobre os derivados, mesmo violando a lei. A redução do ICMS foi feita com a criação de um teto unificado de 17% a 18% o que afeta a arrecadação dos Estados causando problemas de orçamento. É claro que as aves agourentas se aproveitam para atacar a Petrobrás e pregar a sua privatização. Em relação aos alimentos, discute-se a adoção de subsídios ao consumo. O governo já abandonou a ideia de teto de gastos. Está em discussão a criação de um benefício social para aumentar o Auxílio Brasil de R$400 para R$600, criar um vaucher para os caminhoneiros de R$1000 por mês, e aumentar o vale gás de R$53 para R$106. Está criado um problema legal pois estão proibidas as medidas para a criação de subsídios antes das eleições e não há provisão orçamentária. No entanto, isto foi aprovado nas duas casas do congresso por quase unanimidade. Nenhum parlamentar teve coragem de votar contra as medidas que visam minorar o sofrimento dos pobres.

Enquanto isso a situação econômica continua a se deteriorar. O Monitor do PIB da FGV estima para este ano que o PIB ficará entre 0,9% e 1,0% com um máximo de 2%. O investimento medido pela Formação Bruta de Capital Fixo, em abril, teve uma queda de -4,6%. Os maus resultados econômicos têm como consequência a queda da popularidade do governo. A pesquisa Datafolha publicada mostrou que Lula teve 47% das intenções de voto, Bolsonaro 28%, Ciro 8% e Simone Tebet 1%, o que garantiria uma vitória do Lula no primeiro turno. Para piorar a situação a oposição conseguiu as assinaturas para a instalação da CPI do Ministério da Educação (caso Milton Ribeiro). Bolsonaro reage desesperado cada vez com mais violência, com suas ameaças de golpe, agora secundado pelo seu ex-ministro e candidato a vice general Braga Neto.

Por outro lado, a situação internacional se agrava. A economia mundial continua caminhando para uma crise sem precedentes. Os EUA e a União Europeia desaceleraram em junho. A recessão se espalha com a guerra, trazendo inflação, desorganização das cadeias de suprimentos, elevação das taxas de juros, queda nos investimentos, crise de combustíveis e energia. Segundo o Financial Times a Europa vive a hora da verdade. Depois de ter cortado o fornecimento de gás para a Polônia, Bulgária, Dinamarca, Finlândia e Holanda, por falta de pagamento, a Rússia reduziu o fluxo de gás no gasoduto Nord Stream em 60%. Com isto os países não conseguem nem repor seus estoques. E o inverno se aproxima. Os europeus terão de optar entre parar a atividade econômica ou deixar as populações passando frio. As medidas econômicas contra a Rússia, patrocinadas pelos americanos, suspenderam o país de todo o sistema financeiro internacional, bloqueando as suas reservas no exterior. Agora acusam-na de calote da dívida. Proíbem o comércio exterior e a navegação nos portos russos e agora acusam a Rússia de causar a fome no mundo e desorganizar as cadeias de suprimentos. Controlado a distância pelos americanos o palhaço Zelenski continua a pedir mais armas e se recusa a negociar uma solução para o conflito, que deve durar até o último ucraniano. Cresce o perigo da terceira guerra que, provavelmente, não será convencional, para a desgraça da humanidade.

A situação é preocupante e não nos atrevemos a fazer nenhum prognóstico para uma possível solução.