A economia move-se por suas próprias leis

Tive grande preocupação ao ouvir um pronunciamento do presidente Lula criticando os pessimistas que falam em desaceleração da economia. Ele afirmou e garantiu que o governo fará a economia crescer. Minha preocupação baseia-se na postulação científica de que não depende da vontade dos homens obter tais resultados. Por mais bem intencionada que seja esta não é função da política econômica. A economia tem suas próprias leis e são estas leis que determinam os resultados. A política econômica apenas pode interferir nelas acelerando ou retardando sua ação. Diante da destruição causada pelo desgoverno do inominável as dificuldades são ainda maiores. Os desafios que se apresentam e que deverão ser enfrentados são incalculáveis.

Começa até pela necessidade de ser reconstruído e restaurados os próprios aparelhos do Estado sem os quais não se consegue manter a economia e os serviços em funcionamento. Podem servir como exemplo as decisões de recriar o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e o Mais Médicos, atos criticados pela oposição como “mais do mesmo”.

Como temos visto em Análises anteriores parte-se do zero, ou melhor, de uma cota negativa. E tudo tem de ser feito enfrentando a sabotagem e a hostilidade dos que foram derrotados, mas não se conformam com o resultado das urnas. Lamentavelmente o congresso eleito é dos piores que já tivemos. Basta citar parlamentares como Moro, Mourão, Damares, Dallagnol, e dezenas de ex-auxiliares do governo anterior e dos partidos que o apoiaram, incluindo muitos militares. Isto para não falar no orçamento inexequível e no rombo das contas públicas.

A oposição, mesmo acéfala, faz a única coisa que sabe fazer: criar confusão, destruir e sabotar o funcionamento das atividades dificultando de todas as maneiras a execução das ações do governo, mesmo sem ter qualquer proposta alternativa. Apenas destruir e tentar imobilizar a administração. O comportamento nas arguições aos ministros convidados pela câmara pode servir de exemplo.

Mas, isto não é o pior. Já devia ter sido previsto. O pior, e que não foi previsto, é a situação econômica. Lula e seus economistas continuam a raciocinar como se estivéssemos nos anos do primeiro governo. Infelizmente, não estão levando em consideração a teoria marxiana dos ciclos econômicos e por isto não conseguem ver o tsunami que está se armando na economia internacional e internamente. Temos alertado para isto em Análises anteriores. A economia mundial está entrando na fase de crise do ciclo econômico. A pandemia do Covid e a guerra da Ucrânia deformaram a trajetória do ciclo e criaram novas perturbações, mas a lei do ciclo voltou a determinar a evolução econômica e o movimento foi restaurado, começando com a sua fase de crise.

As declarações otimistas sobre o crescimento da economia causam preocupação e mostram ignorância das leis que regem os fenômenos econômicos e qual a influência que a política econômica pode ter sobre elas. Com certeza as medidas que estão sendo adotadas terão um papel anticíclico e poderão amenizar os efeitos da fase de crise. Melhor seria se o Bob Fields Neto, do BC, tivesse um comportamento mais inteligente e deixasse de bancar o traidor da pátria revelando aos especuladores, no exterior, a política de manutenção de juros altos, que o BC vai adotar nos próximos tempos, como ele fez recentemente. Todos os economistas sabem que juros altos prejudicam a recuperação ao criar dificuldades às vendas, ao consumo e aos investimentos. Já falamos muito sobre isto em análises anteriores e citamos algumas autoridades como Jeffrey Sachs, Stiglitz, Lara Rezende etc. A ação do BC, neste momento é pro-cíclica e vai contra as intenções do governo. Aliás, nas próprias atas das reuniões o BC revela que sua intenção é derrubar a economia para combater a inflação (eles continuam a pensar que a inflação é causada pelo excesso de procura). O governo tem uma difícil situação a enfrentar e não está preparado para isto. Será surpreendido.

As lições do passado não foram corretamente aprendidas. No primeiro governo, Lula surfou na onda da fase de reanimação do ciclo mundial. Isto possibilitou o seu grande sucesso. Já a Dilma “comeu o pão que o diabo amassou” pois teve de enfrentar, no seu segundo período, a fase de crise e depressão do ciclo. Claro que nesta fase ela cometeu a burrice de contratar o Levy que fez uma política pro-cíclica e afundou ainda mais o país. Pobre ignorância! O preço pago foi o impeachment.

No momento atual os dados apontam para a entrada da economia mundial na fase de crise do ciclo fato que temos apontado em várias análises anteriores. A situação é agravada pela guerra comercial entre EUA e China, pelos reflexos da pandemia de covid-19, pela guerra da Ucrânia, a inflação e os juros elevados. A desorganização das cadeias globais de valor, do fluxo do comércio mundial, do processo de globalização não teve uma reestruturação. O capitalismo mundial não pode sobreviver sem isso. Muitos analistas preveem que o ambiente externo ainda vai piorar. Infelizmente, com a sede de sangue, os generais da OTAN, obedecendo as ordens dos EUA, mantem sua fúria ante Rússia na busca insana de uma vitória impossível. Por isso não se espera nenhuma ação para uma solução pacífica do conflito.

Internamente o IBGE divulgou estatísticas mostrando que o emprego industrial caiu 2,7%, entre dezembro e fevereiro, e a ocupação total 1,5%, como consequência da desaceleração da economia. Rafael Cagnin, economista do Iedi, prevê que “2023 será mais um ano de baixo crescimento… “. Levantamento feito pelo jornal Valor Econômico mostra que, a queda dos investimentos fará o varejo voltar ao “voo de galinha”. A política de juros do BC faz o crédito ficar mais caro e escasso. Em fevereiro o desconto de duplicatas caiu 7,7% e a antecipação das faturas de cartão de crédito 5,9%. Os empréstimos para o varejo de bens duráveis caíram 5,4% e para bens não duráveis 0,5%. Isto quando o endividamento das famílias está em 49% e o comprometimento da renda em 27%.

Um estudo feito pelo Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral (FDC) concluiu que o momento é de “desaceleração nas economias global e do Brasil”.

É difícil prever qual o alcance das medidas de política economia a serem adotadas. É necessário, porém, que as pessoas saibam das dificuldades do momento atual e das limitações da ação do governo.