Entrevista

Disputa ao governo: “possivelmente, as cinco principais candidaturas não consigam chegar até o final”, avalia cientista político

Com a proximidade das convenções partidárias, que acontecem entre 20 de julho a 5 de agosto, os partidos que vão lançar candidatos para as eleições de 2 de outubro, se preparam para os eventos que dão o pontapé inicial para a campanha eleitoral 2022. Na Paraíba, as principais chapas que vão concorrer ao Governo do Estado devem anunciar os detalhes desses encontros nos próximos dias.

Segundo o artigo 87 do Código Eleitoral, só podem concorrer às eleições os candidatos que estiverem filiados a um partido político, escolhidos em convenção partidária, que são reuniões para julgamento de assuntos de interesse do partido ou para escolha de candidatos e formação de coligações (união de dois ou mais partidos a fim de disputarem eleições).

Tendo em vista o cenário político atual na Paraíba, consultamos o cientista político, Gonzaga Júnior, para fazer uma análise sobre esse momento que antecede as convenções. Segundo ele, é possível até que algumas das cinco principais candidaturas ao Governo do Estado não consigam chegar até as eleições deste ano.

Confira a entrevista, na íntegra, abaixo:

PPE – Você acredita que os cinco atuais nomes que estão sendo cogitados para disputar a vaga ao Governo do Estado na Paraíba seguirão com suas candidaturas ou pode haver redução desse número? E por quê?

Gonzaga Júnior – Na Paraíba, nós temos alguns imbróglios a resolver e, possivelmente, essas cinco principais candidaturas não consigam chegar até o final. O primeiro imbróglio a resolver é o apoio do PT à candidatura de Veneziano Vital do Rego (MDB), uma vez que o PT compõe uma federação com o PV e o PCdoB, partidos que apoiam João Azevêdo, e uma parte do PT também. Então, quem vai definir a situação da Paraíba, no final das contas, é a Federação Nacional PV, PT e PCdoB. Se a federação decidir pelo apoio a João Azevêdo, o que também é provável, haja vista a situação no estado de São Paulo, no apoio a Márcio França (PSB) ao senado, que retirou sua candidatura a governador para apoiar Fernando Haddad (PT). Diante deste cenário, vai ficar muito difícil para Veneziano manter sozinho uma candidatura do MDB. Já com relação à candidatura de Pedro Cunha Lima (PSDB), ele está com dificuldades de colocar o ‘bloco na rua’. A composição de partidos para ele ainda é limitada, apesar de ter a declaração de apoio de Efraim Filho (União), que concorre ao senado na chapa de Pedro. Há também articulações, por parte dos Republicanos, que apoiam o governador, para trazer o senador Efraim Filho de volta a chapa de João, o que criaria uma grande dificuldade para a candidatura de Pedro, porque perde um grande nome. A candidatura do governador dificilmente será retirada, porque é uma candidatura consolidada, que vai para uma reeleição, tem toda uma estrutura, assim como a de Nilvan Ferreira (PL), que é a candidatura mais bolsonarista, que quer fazer na disputa estadual a polarização da disputa nacional. Então, embora seja improvável que algumas candidaturas se retirem deste pleito, é possível que sim, considerando essas articulações que citei.

PPE – Tendo em vista a proximidade das convenções partidárias, como analisa esse cenário atual de indefinições das chapas aqui no estado?

Gonzaga Júnior – É exatamente com a aproximação das eleições que urge a necessidade de cada chapa começar a se definir. A do governador, por exemplo, tem o governo, mas não tem o vice, nem o senador. Tem facilidade do ponto de vista da estrutura, mas tem dificuldades pela articulação. As outras candidaturas dependem de outras variáveis. No caso de Veneziano, além da questão do próprio apoio do PT, tem o fato sobre o processo de inelegibilidade de Ricardo Coutinho (PT) que tem se colocado para o senado. Então, a tendência é que cada vez que se aproxima mais da convenção, essas candidaturas, as chapas, sejam definidas, porque corre o risco de algum candidato ficar só e acabar ‘sobrando na curva’. É muito provável que nessa próxima semana a gente já tenha aí algumas composições de chapas se fechando, para não ter grandes surpresas nas vésperas das convenções, embora isso seja comum aqui na Paraíba.

PPE – Sobre o PT Nacional indicar nomes para as chapas do PSB em alguns estados, seria uma realidade também aqui na Paraíba? O que isso significaria para a candidatura à reeleição de João Azevêdo?

Gonzaga Júnior – A direção nacional do PSB tem feito algumas exigências ao PT. Em São Paulo, como já citei, houve uma pressão para a retirada da candidatura de Márcio França ao governo do estado, para compor como senador na chapa de Fernando Haddad, o que deve ser anunciado ainda nesta semana. Com certeza, o caso da Paraíba também está posto à mesa com uma pré-condição. O fato é que Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB, tem ali também um problema de ordem pessoal, tendo em vista a forma como Ricardo Coutinho saiu do PSB, de uma forma não muito elegante, sendo vista até, em certa medida, como traição, e tem sido percebido nas falas do Carlos Siqueira uma certa raiva, um rancor de Ricardo Coutinho. E colocando também na mesa do PT o fato de Ricardo ser inelegível, embora ele esteja com uma ação em andamento, dificilmente, ou pelo menos não há nenhum elemento que garanta a ele essa possibilidade de candidatura. Então, o PSB e também o PT não quer trocar o certo pelo duvidoso. E é muito arriscado também numa campanha presidencial, Lula entrar numa aventura jurídica aí, tendo a possibilidade de apoio do governador do estado. Então, isso traria um peso significativo para a candidatura de João, ter o ex-presidente Lula e o apoio do PT, mas dificilmente o PT participa numa chapa majoritária com João Azevêdo, tampouco com Ricardo Coutinho, uma vez que eles têm problemas pessoais entre eles.

PPE – Sobre o partido dos Republicanos não abrir mão da vaga de vice para o governo do estado, você acha que isso pode vir a provocar uma ruptura política do partido com a base governista?

Gonzaga Júnior – O partido Republicanos tem se colocado tanto fortemente no apoio a João Azevêdo quanto no apoio à candidatura ao senado de Efraim Filho (União), por isso há também nesse meio de campo uma articulação do Republicanos para fechar uma chapa forte para João, tentando trazer Efraim de volta para a chapa. Embora o governador não vá chamar pessoalmente, ele não fechou as portas para que o Republicanos possa fazer essa articulação. E, na medida em que traz Efraim, pode consagrar ali o nome da indicação à vice na chapa de João Azevêdo. O Republicanos é um partido que tem acumulado muita força política e seria muito ruim para a condução da candidatura à reeleição de João, perder a estrutura e a liga política que o Republicanos conseguiu acumular na Paraíba nesses últimos anos.

PPE – Quem seria, na sua análise, atualmente, o principal adversário político de João Azevêdo na disputa eleitoral deste ano?

Gonzaga Júnior – Eu não chamaria de adversário político, mas o adversário eleitoral de João Azevêdo (PSB), nesse momento, eu acho que figura entre Nilvan Ferreira (PL), que possa vir a disputar o segundo turno com ele, acumulando ou agregando ali o voto bolsonarista, e tanto o senador Veneziano Vital (MDB) e como também Pedro Cunha Lima (PSDB), não necessariamente eles em si, mas o fato de estarem na oposição. Se fosse para falar num adversário político mesmo, de peso, a oposição aqui na Paraíba tem dificuldades, porque ela está muito dividida, não consegue se unificar em torno de um nome forte, e nesse sentido o governador João Azevêdo acaba ali acumulando politicamente, muito à frente dos outros. Então hoje a gente não teria um adversário político à altura da estrutura de João. E eu não digo, necessariamente do capital político do governador, mas de estrutura governamental mesmo. No entanto, voltando ao adversário eleitoral para esta eleição, eu acho que figuraria mais em Nilvan, por agregar de forma mais consolidada o voto bolsonarista. Embora, ele não tenha uma liga política para se colocar enquanto um adversário forte para além da questão eleitoral. Ele não junta capital político.

PPE – Sobre a vaga de vice e de senador nas chapas de João Azevêdo (PSB) e de Pedro Cunha Lima (PSDB). Como você avalia esse momento da pré-campanha deles?

Gonzaga Júnior – O candidato a vice numa chapa majoritária é escolhido a partir de grupos e pessoas que conseguem ter uma maior liga política, uma maior liga eleitoral, onde geralmente o adversário tem mais dificuldade. Por exemplo, se a gente avalia que João tem mais força política em João Pessoa, seria muito mais conveniente para ele escolher um vice de Campina Grande ou do sertão. No caso de Pedro, como ele acumula muito mais apoio político em Campina Grande e no entorno do planalto da Borborema, seria mais interessante, do ponto de vista eleitoral, que ele tivesse um vice na Capital ou também mais para o sertão. Geralmente, os vices são escolhidos dentro dessa estratégia eleitoral mesmo, mas, via de regra, o vice é o último componente a entrar na chapa, porque ele entra ali como uma certa compensação, haja vista que é necessário ainda, no caso de João, principalmente, fechar a questão do senador. O vice configuraria numa complementação eleitoral para a chapa.